Houve um tempo em que escrever textos mais picantes eram feitos quase heróicos. Escritoras ousadas simpatizantes do gênero, arriscavam em doses homeopáticas burlar os costumes da época. Podemos citar várias e nem todas foram editadas em vida. Não vou martelar na tecla enfadonha deste período da história. Prefiro falar em como a falta de liberdade influenciou o trabalho destas mulheres. Ocultas por conta do preconceito elas se entregaram à intensidade. Foi um período extremamente frustrante, mas a sensação do proibido agiu como estímulo para que a voz reprimida criasse vida no papel. E foram versos, romances e pensamentos genuínos, gritos sufocados e canalizados na literatura.
A visão feminina prima pelo conjunto prazer e sentimento. Não que seja um privilégio, gosto de pensar que seguimos a emoção sem reservas e temos a sutileza como aliada. Quando a idéia vai tomando forma, personagens e tramas parecem exigir vida própria. Um texto erótico tem toda a cadência e flui em busca da resposta do leitor. Existe um cuidado em descrever formando um conjunto completo. Em cada ângulo um pouco do partilhar e acolher. A essência feminina é naturalmente doadora. Recebe, abastece, guarda e nutre. Em comum todas estas escritoras não tiveram medo de partilhar a percepção do sexo. Sem pudor descreveram sensações até então sugeridas e algumas nem imaginadas.
O orgasmo feminino não era assunto que se discutisse. Imagino que as mulheres tinham acesso aos livros e liam as escondidas, suspirando em cada verso e imaginando pra si o prazer sugerido. O importante é que a voz não estava calada, ainda que apenas sussurrasse delícias, apregoava a liberdade da satisfação. Estas escritoras pioneiras são referência para a nova geração de autoras do gênero erótico. Ainda existe o tabu sobre as minúcias e o cuidado para não cair na pornografia grosseira. Mas a grande maioria não está preocupada em mascarar o texto. É um caminho novo que está abrindo com algum receio. Mas o mercado é curioso e imprevisível. A libido foi despertada e já não precisamos esconder as preferências. De qualquer maneira foi uma longa estrada e hoje finalmente as portas estão abertas.
Foto: Ricardo Pozzo
domingo, 18 de janeiro de 2009
As mulheres na literatura erótica- Giselle Sato
por Giselle Sato
5 Comentários
5 comentários:
Contos deveriam sugerir o desejo sem cair no vulgar... Excitar, provocar, facinar, encantar...
Concordo plenamente e acredito que estamos caminhando para tal...obrigada pela leitura
De fato é interessante o assunto. A necessidade da mulher esconder seu libido vem desde a época que perde seu poder com o surgimento da família monogâmica. Antes a mulher poderosa, passa a ser mero utensílio reprodutivo masculino.
E de la para cá não se modifica essa questão. Dou muito valor a estas Mulheres que contestam essa posiçãoingrata alias de enfrentar a sociedade machista, mas a verdadeira igualdade só será superada com a superação dessa forma de sociedade, de seus valores de sua forma de organização, produção e reprodução.
Contos são a nossa janela para o leitor, contos dizem, mostram, excitam e provocam reações, são linguagens de texto que levam o leitor a refletir, sentir e admirar a grande capacidade que a MULHER tem em mostrar o que há de mais feminino, o universo do prazer, o universo da mulher que não teme expor seus anseios e desejos e exige pra si o reconhecimento da sua sexualidade, sem medos, sem culpas e sem a piegas desculpa machista que prega o recato(repressivo) feminino. As mulheres sensuais e resolvidas, não temem críticas, elas a utilizam como trampolim para o seu sucesso.Prazer sim, preconceito nunca.
Adorei o espaço e os textos, estão de parabéns.
As mulheres na literatura erótica estão perdendo o medo, o tabu e realmente deflorando os desejos e espelhando também o desejo dos outros.
Nina Capucci
Escritora
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