Guilherme Augusto Rodrigues
No alto da colina, numa cidadezinha, havia uma mansão sombria e muito antiga. Cercada por uma vegetação densa. À porta de entrada, havia duas grandes gárgulas com dentes e garras afiados, asas enormes. Uma pequena e mal cuidada trilha, já abandonada há muitos anos que levava até o portão de entrada, velho e enferrujado. Pouco visível entre a vegetação, e nos pilares mais duas pequenas gárgulas, mas aterrorizantes. Pareciam vivas, só a observar a movimentação de quem ousasse se aproximar do portão. A mansão era encoberta por uma rigorosa névoa.
Ninguém visitava a casa, ninguém!
Júlia, uma garota, cansada de tantos mistérios e lendas contados pelos moradores, resolveu investigar a mansão, na noite de lua cheia.
Passou pelo portão e foi caminhando pela trilha, bateu à porta. Ficou ali na companhia das gárgulas. Parecia que iam voar em cima da garota, até que um homem abriu a porta, ambos levaram um susto, ele: porque ninguém vinha visitá-lo e de repente uma garota lindíssima estava ali diante dele, ela: com a aparência do sujeito. O homem era deveras esquisito, pálido, cabelos longos, despenteados e negros. Vestia um terno preto, já bem fora de moda, bastante antigo que carregava as poeiras do antanho. Disse com uma voz fria:
–Entre, não há o que temer. Fique à vontade– e saiu.
Júlia, hesitante, entrou.
A casa por dentro era fria, com pouca luminosidade, úmida e abandonada, empoeirada e com teias-de-aranha, somente algumas velas a iluminava. Júlia sentou-se à mesa velha, carcomida e deteriorada. Ainda com medo. O homem reapareceu servindo uma bandeja com biscoitos e bolinhos.
–Qual o seu nome?
–João Joaquim, e o seu?
–Júlia.
O nome dele lhe parecia familiar.
Estava morrendo de fome e comeu muitos biscoitos e bolinhos.
–Por que resolveu me visitar?
–Porque dizem muitas histórias e lendas sobre esta casa, então, resolvi conferir, mas, o que dizem não passam de lendas.
–Elas inventam muitas histórias mesmo, que representam seus medos, a sociedade. Não vou à cidade há muitos anos, aqui tenho tudo que preciso; só não tenho quem amar.
–Terá... Algum dia –disse sem jeito, sorrindo.
Depois de algum tempo foram até a torre mais alta do casarão, onde há uma bela vista noturna e lá embaixo se vê as luzes da cidade.
–Eu adoro esta vista, a lua cheia, a noite, sempre volto para cá para vê-la.
–Deve ser maravilhoso ver o sol nascente. Que linda vista!
Júlia ficou apenas contemplando a vista noturna, o luar que iluminava o interior da torre e a cidade. Ficaram em silêncio e depois conversaram por longas horas. João se mostrou um homem romântico e amoroso, frágil e carinhoso. Eles se sentaram no chão vendo o céu, o luar, a chuva. Sentaram-se um ao lado do outro. Júlia encostou-se em João e apoiou a cabeça em seu peito. João levou a mão à cabeça dela e a afagou. Ela quase dormiu.
–Quando vim aqui, nunca imaginava que ia encontrar uma pessoa assim tão amável, tão dócil, tão sensível...
–Eu, durante todos esses anos, nunca imaginei que alguém viesse a esta casa assustadora, velha, solitária no alto da colina.
Sem dizerem mais nada se beijam. Olhavam-se um para os olhos do outro certos de que se amavam. O silêncio era, naquele momento, a sinfonia mais bela nas notas mais suaves, amáveis. Os acordes do silêncio como ninguém, jamais, havia ouvido.
A lua parecia estar vigiando-os, parecia engoli-los. Abraçava-os.
A noite já ia se deitando, pronta para dormir. Júlia logo se apressou, esquecendo-se que tinha que ir, num pulo ficou de pé, logo estava pronta. Descendo a escadaria correndo. Pulava dois, três degraus. Chegaram à porta, abraçaram-se alguns minutos mais, beijaram-se.
–Tchau, querida! Sentirei saudades. Volte na próxima lua cheia.
–Tchau, amor! Até logo!
Passados alguns dias, Júlia voltou para ver João Joaquim. Bateu à porta e ninguém atendeu, bateu mais uma vez. De repente uma gárgula ganhou vida, Júlia, estupefata, congelou-se, a gárgula avançou e atacou com uma patada no rosto. Júlia caiu ao chão. Deve ter permanecido desacorda por um bom tempo. Foi recobrando os sentidos, se sentiu zonza, com a cabeça pesada e dolorida, sem saber o que tinha acontecido. Sem se lembrar do fato, levantou-se, ainda zonza, encontrou sangue no chão, no rosto e em suas mãos. Tentou abrir a porta, estava aberta.
–Socorro! João! Sou eu, Júlia.
Na escuridão e na frieza do lugar totalmente abandonado: Silêncio...
Envolto na escuridão, o que parecia ser a sinueta de um homem a observava amoitado atrás do pilar do segundo andar contíguo o corrimão. E ela nem o percebeu.
O ar pesado da casa, ela não vê nada de bom, sentiu tontura e logo saiu da casa.
Resolveu olhar ao redor da casa. No céu, avistou um pássaro grande rondando a casa. Olhou pela redondeza da casa chamando por João Joaquim. Encontrou: João Joaquim – 1831 – 1852.
Ao ver aquilo saiu correndo, desesperada, correndo mais do que suas pernas podiam agüentar, a gárgula deu um rasante que quase novamente a acertou na cabeça. Lembrou-se, ainda com dor e cambaleando, que João Joaquim foi o homem que morreu sem amar.
Dois meses depois descobriu que estava grávida de João Joaquim. Em homenagem ao pai, o garoto recebeu o mesmo nome. Júlia nunca mais viu o pai da criança. A criança, mais crescidinha, foi ao encontro de seu pai e nunca mais voltou.
Ninguém visitava a casa, ninguém!
Júlia, uma garota, cansada de tantos mistérios e lendas contados pelos moradores, resolveu investigar a mansão, na noite de lua cheia.
Passou pelo portão e foi caminhando pela trilha, bateu à porta. Ficou ali na companhia das gárgulas. Parecia que iam voar em cima da garota, até que um homem abriu a porta, ambos levaram um susto, ele: porque ninguém vinha visitá-lo e de repente uma garota lindíssima estava ali diante dele, ela: com a aparência do sujeito. O homem era deveras esquisito, pálido, cabelos longos, despenteados e negros. Vestia um terno preto, já bem fora de moda, bastante antigo que carregava as poeiras do antanho. Disse com uma voz fria:
–Entre, não há o que temer. Fique à vontade– e saiu.
Júlia, hesitante, entrou.
A casa por dentro era fria, com pouca luminosidade, úmida e abandonada, empoeirada e com teias-de-aranha, somente algumas velas a iluminava. Júlia sentou-se à mesa velha, carcomida e deteriorada. Ainda com medo. O homem reapareceu servindo uma bandeja com biscoitos e bolinhos.
–Qual o seu nome?
–João Joaquim, e o seu?
–Júlia.
O nome dele lhe parecia familiar.
Estava morrendo de fome e comeu muitos biscoitos e bolinhos.
–Por que resolveu me visitar?
–Porque dizem muitas histórias e lendas sobre esta casa, então, resolvi conferir, mas, o que dizem não passam de lendas.
–Elas inventam muitas histórias mesmo, que representam seus medos, a sociedade. Não vou à cidade há muitos anos, aqui tenho tudo que preciso; só não tenho quem amar.
–Terá... Algum dia –disse sem jeito, sorrindo.
Depois de algum tempo foram até a torre mais alta do casarão, onde há uma bela vista noturna e lá embaixo se vê as luzes da cidade.
–Eu adoro esta vista, a lua cheia, a noite, sempre volto para cá para vê-la.
–Deve ser maravilhoso ver o sol nascente. Que linda vista!
Júlia ficou apenas contemplando a vista noturna, o luar que iluminava o interior da torre e a cidade. Ficaram em silêncio e depois conversaram por longas horas. João se mostrou um homem romântico e amoroso, frágil e carinhoso. Eles se sentaram no chão vendo o céu, o luar, a chuva. Sentaram-se um ao lado do outro. Júlia encostou-se em João e apoiou a cabeça em seu peito. João levou a mão à cabeça dela e a afagou. Ela quase dormiu.
–Quando vim aqui, nunca imaginava que ia encontrar uma pessoa assim tão amável, tão dócil, tão sensível...
–Eu, durante todos esses anos, nunca imaginei que alguém viesse a esta casa assustadora, velha, solitária no alto da colina.
Sem dizerem mais nada se beijam. Olhavam-se um para os olhos do outro certos de que se amavam. O silêncio era, naquele momento, a sinfonia mais bela nas notas mais suaves, amáveis. Os acordes do silêncio como ninguém, jamais, havia ouvido.
A lua parecia estar vigiando-os, parecia engoli-los. Abraçava-os.
A noite já ia se deitando, pronta para dormir. Júlia logo se apressou, esquecendo-se que tinha que ir, num pulo ficou de pé, logo estava pronta. Descendo a escadaria correndo. Pulava dois, três degraus. Chegaram à porta, abraçaram-se alguns minutos mais, beijaram-se.
–Tchau, querida! Sentirei saudades. Volte na próxima lua cheia.
–Tchau, amor! Até logo!
Passados alguns dias, Júlia voltou para ver João Joaquim. Bateu à porta e ninguém atendeu, bateu mais uma vez. De repente uma gárgula ganhou vida, Júlia, estupefata, congelou-se, a gárgula avançou e atacou com uma patada no rosto. Júlia caiu ao chão. Deve ter permanecido desacorda por um bom tempo. Foi recobrando os sentidos, se sentiu zonza, com a cabeça pesada e dolorida, sem saber o que tinha acontecido. Sem se lembrar do fato, levantou-se, ainda zonza, encontrou sangue no chão, no rosto e em suas mãos. Tentou abrir a porta, estava aberta.
–Socorro! João! Sou eu, Júlia.
Na escuridão e na frieza do lugar totalmente abandonado: Silêncio...
Envolto na escuridão, o que parecia ser a sinueta de um homem a observava amoitado atrás do pilar do segundo andar contíguo o corrimão. E ela nem o percebeu.
O ar pesado da casa, ela não vê nada de bom, sentiu tontura e logo saiu da casa.
Resolveu olhar ao redor da casa. No céu, avistou um pássaro grande rondando a casa. Olhou pela redondeza da casa chamando por João Joaquim. Encontrou: João Joaquim – 1831 – 1852.
Ao ver aquilo saiu correndo, desesperada, correndo mais do que suas pernas podiam agüentar, a gárgula deu um rasante que quase novamente a acertou na cabeça. Lembrou-se, ainda com dor e cambaleando, que João Joaquim foi o homem que morreu sem amar.
Dois meses depois descobriu que estava grávida de João Joaquim. Em homenagem ao pai, o garoto recebeu o mesmo nome. Júlia nunca mais viu o pai da criança. A criança, mais crescidinha, foi ao encontro de seu pai e nunca mais voltou.
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