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domingo, 14 de setembro de 2008

Microcontos: Terror

O Corajoso
Marcia Szajnbok
O Tuta era aquele menino que todos os demais invejavam: grandão, musculoso, metido. Foi o primeiro a fumar, se gabava de ir ao puteiro desde os 10 anos, conhecia palavrões que nenhum dos outros tinha ouvido ainda. E, o principal, era corajoso, muito corajoso mesmo. Toda sexta-feira, os meninos apostavam: quem é que consegue ficar mais tempo sozinho no portão do cemitério? O Tuta sempre vencia, e vencia de lavada. Naquela noite, fez uma proposta diferente:
- Vamos ver quem é que consegue ir mais longe dentro do cemitério... Cada um entra, os outros vão contando os passos... Aposto que vou levar esta também!
Não que os outros acreditassem que podiam vencer o Tuta. Mas, uma aposta dessas menino que é homem não recusa. E lá foram, perto da meia-noite, se embrenhar no cemitério. Foi um, depois outro, ninguém dava mais de vinte passos. Chegou a vez do Tuta. Depois de dez passos, virou-se para o portão e gritou:
- E aí, cambada? Não tem nenhum macho aí pra me acompanhar?
Diante do silêncio, seguiu em frente. Do lado de fora, os outros ouviam os passos e contavam: trinta, quarenta, oitenta, cento e vinte, cento e vinte e dois... Silêncio. Os garotos se entreolharam. Cadê o Tuta? Ninguém fez a pergunta, mas ela pesava no ar escuro e absolutamente silencioso daquele início de madrugada de sábado. Quando uma nuvem escura tapou completamente a luz da lua e um vento gelado uivou por entre as árvores, saíram todos correndo, cada um rumo à sua casa, ansiosos pelas cobertas e pela própria mãe.
O Tuta? Nunca mais foi visto.

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