Nas últimas semanas, a população brasileira ficou chocada com algumas ações desastradas da polícia. Num curto intervalo de tempo, policiais do Rio de Janeiro e do Paraná, perseguindo bandidos, abordaram automóveis errados e fuzilaram pessoas inocentes — uma criança, uma jovem e, mais recentemente, o refém dum assalto, foram executados.
Estas tragédias comoveram as pessoas, pois se aqueles indivíduos pagos para protegerem os cidadãos são justamente quem os matam, que tipo de segurança é esta?
Mas deixando de lado a dor dos familiares, vítimas do absurdo que é a segurança pública no Brasil, toda a ênfase dada ao despreparo dos policiais é duma hipocrisia sem tamanho.
Qualquer um que já foi alvo da violência urbana sabe qual é o primeiro pensamento que se tem posteriormente: “bandido bom é bandido morto”.
A maioria das pessoas não hesitaria, caso questionadas, em condenar a pena de morte, mas se alguém em sua família for seqüestrado, estuprado, ou assassinado, o desejo natural é de retaliação. Logo se esquece de todas as aulas de catequese, de “dar a outra face”, e queremos o “olho por olho, dente por dente”. Este é o sentimento mais instintivo possível: punição na altura do crime cometido.
E o clamor popular é sempre o mesmo — basta de impunidade. Não adianta tapar o sol com a peneira e aguardar que alguma instância do judiciário, ou do sistema penitenciário resolva o problema da criminalidade. Alguns preferem comprar um revólver e deixar em cima do armário, outros preferem que a polícia atue como justiceira e, mais do que manter a ordem, atuem também como juízes e executores. E isto é o que tem ocorrido no Brasil há décadas. Quem não se lembra da chacina da Candelária? Ou da execução do seqüestrador do ônibus 174 no Rio? Ou quem já não ouviu sobre a reputação da Divisão Antiseqüestro do Paraná, que praticamente erradicou este tipo de crime no estado porque os bandidos eram executados? Ou quem nunca viu imagens do carro blindado do BOPE — vulgo “Caveirão” — invadido as favelas e mandando bala pra todo o lado?
Não é de hoje que a polícia “mata a cobra e mostra o pau” e, no fundo, num lugar bem escondido, é o que todos desejamos. Se a Justiça não funciona, alguém tem de dar cabo da impunidade. Não é isto parte do fascínio que o filme “Tropa de Elite” exerceu sobre o brasileiro, ver em ação uma equipe policial incorruptível e que faz alguma coisa?
No entanto, só os pobres merecem ficar em meio ao fogo cruzado. Deixe isto para os favelados, que desde há muito estão acostumados com trocas de tiro de madrugada, com balas-perdidas atravessando suas janelas, portas e paredes, perdendo seus filhos para o narcotráfico, ou sendo executados, equivocadamente, por policiais. Enquanto o massacre e a carnificina estiverem nos morros ou nas baixadas, longe das vistas e das câmeras de TV, então tudo bem!
Mas ai destes policiais despreparados se eles atingirem um cidadão de classe média!
Pois, no Brasil, só pobre merece ser confundido com bandido...
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