Fernando Bonassi nasceu em São Paulo, em 1962. É roteirista de cinema e TV, dramaturgo, cineasta e escritor de diversas obras, entre elas Um Céu de Estrelas (Ed Siciliano) Subúrbio; Crimes Conjugais e 100 Histórias Colhidas na Rua (Scritta); O Amor é Uma Dor Feliz (Moderna); Uma Carta Para Deus e Vida da Gente (Formato) O Céu e o Fundo do Mar (Geração Editorial); 100 Coisas (Angra) ); Declaração Universal do Moleque Invocado (Cosac & Naify) e São Paulo/Brasil (Ed. Dimensão), ambos finalistas do Prêmio Jabuti nos seus anos de lançamento. Em 2003 é publicada a novela Prova Contrária e em 2005 o romance O Menino que se Trancou na Geladeira, ambos pela Editora Objetiva. É co-roteirista de filmes como Os Matadores (de Beto Brant); Através da Janela (de Tata Amaral); Castelo Ra Tim Bum (de Cao Hamburguer); Carandiru (de Hector Babenco – Prêmio TAM do Cinema Brasileiro para o melhor roteiro adaptado de 2003); Garotas do ABC (de Carlos Reichenbach), Cazuza (de Sandra Werneck- Prêmio TAM do Cinema Brasileiro para o melhor roteiro adaptado de 2004). Em 2006 é co-autor, com o cineasta chinês Yu Lik Way, do roteiro da co-produção Brasil/China Plastic City. No teatro, destacam-se as montagens de Preso Entre Ferragens (dirigida por Eliana Fonseca); Apocalipse 1,11 (em colaboração com o Teatro da Vertigem); “Três Cigarros e a Última Lasanha” (com Renato Borghi e direção de Débora Dubois); Souvenirs (dirigida por Márcio Aurélio); “Arena Conta Danton” com a Cia Livre de Teatro; a encenação do fragmento “Estilhaços de São Paulo”, no espetáculo “Megalopolis” do Theater der Klaenge (Sttutgart, Alemanha) e “Centro Nervoso”, quando estreou na direção, em agosto de 2006. Em 2007 volta ao texto e a direção com o monólogo O Incrível Menino na Fotografia, interpretado pelo ator Eucir de Souza. Tem diversos prêmios como roteirista no Brasil e no exterior, além de obras literárias adaptadas para o cinema e textos em antologias na França, Estados Unidos e Alemanha. O romance Subúrbio teve os direitos comprados pelo Deutsches Schauspielhaus de Hamburgo. A adaptação teatral estreou no dia 04 de abril de 1998. Nesse mesmo ano, foi vencedor da bolsa do Kunstlerprogramm do DAAD - Deutscher Akademischer Austauschdienst. Desde 1997 é colunista do jornal Folha de São Paulo.
Há pouco tempo nós tivemos a adaptação do impressionante livro 'Ensaio sobre a cegueira', do José Saramago, em uma produção que causou alguma polêmica. Há uma cena impactante (a do estupro coletivo) que foi efetivamente filmada pelo Meirelles e exibida de maneira experimental. A cena foi vetada porque a reação foi muito adversa. Nesse sentido, há algum trecho do livro “Estação Carandiru”, de Dráusio Varela, que você considerou melhor não expor na adaptação para o cinema? E o que você achou do resultado final do filme?
Fernando Bonassi: Não, nenhuma cena de Carandiru foi censurada de qualquer modo pelos roteiristas e responsáveis pelo filme. Fizemos o que quisemos, mas acho que o resultado não é bom. É um filme muito lento quando devia ser rápido e muito rápido onde devia se deter e “observar melhor” os personagens. Não é o meu melhor resultado em cinema. Gosto mais do que ajudei a fazer em Os Matadores, de Beto Brant.
Para a escrita do roteiro do filme “Carandiru”, você esteve dentro deste complexo penitenciário para acompanhar as atividades diárias dos detentos. O que essa experiência lhe trouxe? Você costuma usar esse artifício de inserção no ambiente retratado para compor suas histórias?
F.B.: Acompanhei um grupo de escritores lá no presídio e ao mesmo tempo escrevia cartas para outros tantos, tudo que vi, e ouvi lá me marcou para o roteiro e marca minha escrita sim. Havia muita dor lá, impossível ficar imune.
A literatura, o cinema e o teatro possuem estruturas, resultados e públicos bastante distintos. Para você, qual é o maior desafio ao escrever para cada um destes meios? E qual deles mais te agrada?
F.B.: Cinema é dinheiro. Teatro é diversão. Literatura é liberdade.
Qual é sua maior preocupação como autor? Que mensagem deseja passar com o que escreve?
F.B.: Minha maior preocupação como autor é comover como sou comovido com a vida.
Conte-nos um pouco sobre a trajetória percorrida até ter sua primeira obra publicada.
F.B.: Escrevia (e escrevo) muito muito. Participei de todos os concursos e jornais literários de minha época e até hoje é assim. Oferecer o meu texto por aí é o único jeito mais ou menos honesto que encontrei e encontro até hoje...
É comum encontrar-se autores que, mesmo com livros publicados, se não tiverem a aprovação da crítica ou um maior reconhecimento, não conseguem obter retorno satisfatório com a escrita e acabam por deixarem-na em segundo plano ou, até mesmo, a abandonam. O que você acha disso e, no seu caso, como e quando surgiu esse reconhecimento?
F.B.: Escritor que escreve por reconhecimento tem texto morto. A gente escreve e a crítica aprecia. Normalmente tomamos pau, mas é assim mesmo. Um dia alguém fala bem e aí começa um circuito de boatos em torno de você... Mas isso só acontece se você escrever sem esperar. Tem que ser surpresa, senão não vale. Se a critica fosse importante, haveria só ensaio, não literatura.
Como foi sua experiência de viver fora da Brasil? Há uma boa aceitação de seus livros por leitores estrangeiros?
F.B.: Viver no estrangeiro, em países onde você nem sabe a língua, é uma experiência muito forte de solidão e paradoxalmente de mergulho na sua própria cultura. Passei a compreender (não aceitar) melhor o Brasil depois que fiquei longe dele. É bom ser cidadão das Américas, a tradição nos pesa menos... Meus livros de criança vendem bem no exterior, mas ainda temos muito o que aprender para se dar bem nesse mercado...
Tendo em vista sua participação em projetos marcantes para a televisão, como os programas “Rá-tim-bum” e “O Mundo da Lua”, até que ponto vai sua afinidade com a escrita para o público infantil?
F.B.: As crianças são leitores mais desencanados que os adultos. Da pra falar de tudo com uma criança, já os adultos vivem se ofendendo... é um saco.
Há algum projeto específico (romance, roteiro, peça teatral) em que está investindo no momento? Pode nos falar um pouco dele?
F.B.: Neste momento interrompi a escrita de um romance para trabalhar na TV. Fui contratado pela TV Globo para algumas propostas (ainda sigilosas) de ficção e com uma liberdade criativa, por enquanto, muito grande. Eu vou até onde eles me deixarem enloquecer. O salário é muito bom, de todo modo. Acho que vai dar pra comprar alguns vestidos de princesa pras minhas filhas...
Por fim, a equipe editorial da revista SAMIZDAT agradece muito toda a prestatividade e disposição com que nos cedeu esta entrevista. Desejamos-lhe todo sucesso e um grande abraço!
F.B.: O meu abraço fraterno a todos da SAMIZDAT!
Carlos Alberto Barros
Perguntas feitas por:
Alian Moroz
Carlos Alberto Barros
Denis da Cruz
Henry Alfred Bugalho
Samuel Peregrino
Volmar Camargo Junior
3 comentários:
Muito bom! Mesmo mesmo! Parabéns pra todo mundo, e um grande abraço para o Fernando. A entrevista foi muito boa, e o cara é super-sincero. Sem frescuras.
Ótimo, gurizada!
Gostei de alguns conceitos apresentados nas resposntas.
Comover como se é comovido.
Cinema, teatro, livro...
Grande abraço a todos.
Ótima entrevista. Gosto muito do talentoso ator Eucir de Souza. Ele é o ator principal da mais nova série brasileira da HBO que convida você a experimentar a vida através dos olhos de um juiz de futebol vaiado durante a Copa Libertadores. O contexto de fdp é muito interessante, diferente das séries atuais. Eu quero assistir essa série.
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