Caso Isabella. Até onde somos culpados? - giselle Sato
Não gostaria de falar sobre Isabella mas estou sufocando com tantas informações absurdas. Sinto uma angústia crescente, raiva e indignação, dor e desapontamento. Está muito difícil suportar. Não quero o lamento inútil, desejo ser solidária a criança que ela personifica.
Cada criança perdida desde o início dos tempos. Crimes que jamais foram solucionados ou questionados. Nossas meninas estão sendo torturadas. Na inexistência da bondade que a consciência dos deveres paternos sejam mais fortes.
É difícil aceitar a maldade. Mas ela existe, disfarçada em lares aparentemente perfeitos.
A formação familiar ausente produz seres incapazes de atitudes morais. O meio em que vivemos não nos ensina nada além da violência e competição pela sobrevivência.
Tiros, assaltos, crimes violentos, espancamentos, todos os dias os jornais publicam horrores. Nossas crianças brincam com o perigo, estão no fogo cruzado, são usados como escudos pelos traficantes. São alugadas como objetos.
São tantas crianças sofrendo e foi preciso uma delas ser arrastada em frangalhos pelas ruas para a população ouvir o grito frágil. Encontraram a menina acorrentada e indefesa. Era apenas mais uma de tantas outras . Porque não escutaram os gritos? Quantas outras ainda estão no cativeiro? Ou em celas mistas na Cadeia Pública? Como não foram socorridas? Ninguém viu ou ouviu.
Jogaram pela janela uma vida enquanto tantas outras são lamentadas, sofridas e queridas. Porque o ser humano é capaz de atos tão desprovidos de misericórdia.
Quantos nunca ouviram ou sentiram o toque sublime do amor incondicional? O respeito por cada ser vivo. O respeito por si mesmo.
Gratidão. Comunhão com a vida. Compreender que cada respiração é um milagre divino. Expandir a consciência e enxergar além da forma física infantil. Ver que naquele corpinho habita um ser humano. Com direitos, merecimentos, sob nossa tutela, proteção e amparo.
Não posso negar as palavras o direito de formar o texto que escrevo com tanto pesar. Não posso calar a voz que grita em meu peito que é preciso ser útil. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo e triste.
Da próxima vez que for testemunha de alguma agressão ou maus tratos, pouco me importa se pensarão que sou louca, vou agir de acordo com minha consciência. Quem sabe aquele pai que caminha pelo Shopping cheio de sacolas de brinquedos caros esteja arrastando o filho pelos cabelos porque está descontrolado e um simples alerta fará com que ele pense duas vezes antes de atirar o menino pela janela.
Calar também é permitir e se omitir é tão crime quanto praticar.
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Caso Isabella. Até onde somos culpados?
por Giselle Sato
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