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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A SENTINELA QUE FICA


 


Numa noite de chuva fria

eu havia saído para as minhas

pesquisas quando o encontrei.

 

O vento ventava forte

nas vigas velhas do casarão

e meus cabelos e minhas mãos

se emplastavam de teias de aranha.

 

Existe uma imensa solidão em mim

que me transborda e me faz percorrer

roteiros de silêncio e sem volta.

 

Meu encontro com a criatura proscrita

foi algo meio profético e enigmático

e na noite infestada de miasmas um

vulto cinza me falou em meio a sombras:

 

“Nada me prende a este cemitério

a não ser as dificuldades reais

de se transpor um corpo da sepultura.

Não me agrada nada esta arquitetura

mas há em mim esta herança maldita

que persegue minha família como uma sina.

 

As grades do muro e do portão de saída

são um limite e uma prisão fictícia e

nada me diferencia de você a não ser

a natureza das nossas dificuldades.

E o que mais nos aproxima é o estado

permanente da solitária decomposição

de nossas almas”.

 

E finalmente disse, já estertorando:

“O único elemento que nos distingue

é o estado de conservação da madeira,

nas tábuas já podres do meu caixão

e nas envernizadas que te aguardam”.

 


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