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sábado, 9 de março de 2024

Decisões, decisões

 


Sentado num dos bancos da estação, Pedro observa, distraído, a chegada de um comboio vazio, remoendo pela milésima vez o seu dilema: ficar ou partir?

Fora sempre o tipo de pessoa de se deixar “ir na maré”, mas desta vez não via outra solução, tinha mesmo de tomar uma decisão. Só que ao fim das duas semanas que lhe tinham concedido, muito a custo, estava ainda mais confuso do que quando começara.

Fizera tudo de que se lembrara para o ajudar a avaliar a situação, mas o prazo estava o fim, tinha de dar uma resposta final daqui a menos de uma hora e não fazia a mais pálida ideia de qual seria.

Amigos e conhecidos não tinham sido de grande ajuda. Contactara todos de que se lembrara, alguns, até, que não contactava há anos, mas, infelizmente, ao contabilizar as poucas opiniões recebidas, havia tantas a favor da partida como contra.

A família, bom, essa estava farta das suas indecisões, do seu eterno saltitar entre opções ao sabor do último a falar, muito francamente a opinião geral era de que era mais do que altura de ser ele o responsável por decidir a sua vida. Tinham-se, pura e simplesmente, recusado a opinar, particularmente a mulher. Mas esta tinha boas razões para isso, ajudara-o em várias ocasiões similares no passado e depois vira-se a ser o alvo do seu descontentamento quando as coisas não tinham corrido como imaginara. E nunca corriam, inevitavelmente, porque ele nunca tinha uma visão clara do que poderia acontecer.

Como agora. Esta oferta de emprego era muitíssimo tentadora, bom salário, despesas de estadia pagas, um país que sempre quisera conhecer e, como bónus, um certo ar de aventura com que sonhava vagamente desde miúdo. Mas havia a distância, a separação da família, a falta de comunicações regulares, os maus cuidados médicos, ou antes, a ausência deles, e, acima de tudo, o possível perigo de se vir a tornar um alvo por ser estrangeiro.

Por outro lado, ficar significava manter o seu ambiente familiar e o conforto da rotina, isso se nada acontecesse à empresa que, bem o sabia, passava atualmente por um mau momento. Mas podia ser que as coisas se endireitassem, o mesmo acontecera dois anos antes sem consequências de maior, podia ser, até, que lhe oferecessem finalmente um vínculo permanente.

Rotina? Ou salto no escuro? Que decidir?

Ouviu então o comboio que vira chegar vazio, agora quase cheio, dar o sinal da partida. E foi quando se decidiu, usá-lo-ia como símbolo da sua partida iminente. Não seria, certamente, um critério pior dos que adotara no passado e podia muito bem ser que o resultado fosse bem melhor.

Luísa Lopes

Imagem feita com QuickWrite

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