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quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Sangue é vida

      


Uma pessoa a querer ajudar e só se mete em sarilhos! 

Como vi que o meu riquinho andava com um ar debilitado, por não andar a comer devidamente, decidi ser simpática e arranjar-lhe uma bela refeição, bem a seu gosto. Telefonei, pois, a um talho que me tinham recomendado recentemente por ter coisas que outros não têm ou, aqui para nós, que não são lá muito legais, como certos tipos de mioleiras.

Bem sei que era de manhã muito cedo e não sou propriamente uma pessoa matinal e os números de telefone até eram parecidos, o que justifica a chamada errada, mas continuo sem conseguir entender como me meti nesta tremenda confusão. Muito francamente, culpo quem me atendeu por não se ter identificado devidamente.

A conversa começou até muito bem. Perguntei se tinham sangue e responderam-me que não mas que podiam arranjar se fosse urgente e de que tipo era. Respondi, claro, que sim, que era bastante urgente, mas um qualquer serviria, uns dois litrinhos para entrega ao domicílio no próprio dia ou, quando muito, no dia seguinte. Não,, responderam prontamente, não podia ser, não enviavam, tinha de ser no próprio local e só com atendimento pessoal.

Bom, isso estragava-me um pouco a surpresa, mas se tinha de ser assim, paciência, sempre era melhor do que nada. Pedi, pois, o endereço exato e o horário de funcionamento e, quando o riquinho acordou bem ao fim da tarde, lá o convenci, com grande custo, a ir até lá buscar o seu petisco.

O resto soube-o pelos noticiários, “Louco invade clínica veterinária a exigir sangue!”, “Violência numa clínica veterinária!”, “Caos animal numa clínica veterinária.” Resumindo, o riquinho entrou, viu toda uma série de animais e pensou que eu lhe tinha preparado um belo banquete.

Foi logo direto a um Serra da Estrela, que apesar de velhote e pacato não se deixou ficar. E, claro, a sua excitação alastrou rapidamente a quanto cão e gato ali estava, até mesmo a um macaco que a dona tinha tirado da gaiola de transporte para o amimar um bocadinho.

Resumindo, animais feridos, alguns por obra de outros da mesma espécie ou de variedades “inimigas, ataques de histeria de donos e empregados ali presentes e alguns ferimentos ao tentarem acalmar todo aquele caos e, claro, o riquinho preso. Tenho andado a tentar resolver o assunto com a ajuda de um advogado manhoso, o único que consegui arranjar, mas nem com ele consigo falar, está “em observação e em greve de fome”, é a resposta usual. Enfim, o que seria de esperar.

O verdadeiro problema vai ser quando ele sair, sim, porque mesmo que o condenem a pena não será grande, sobretudo se o seu estado de saúde se continuar a agravar, algo mais do que inevitável. A questão é, como é que se convence um vampiro de que tudo isto não p

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