Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

domingo, 13 de agosto de 2023

O Telefonema

 

O telefonema

 

O retinir da campainha do meu telemóvel arrancou-me ao sono.

Estremunhado, sentei-me na cama e com as pontas dos dedos tacteei a mesinha de cabeceira, até dar com o telemóvel.

Uma voz angustiada falou de rompante:

− Preciso de falar contigo, é urgente, vem ter comigo à minha casa.

Nem tive tempo para dizer fosse o que fosse, um clique anunciou que a chamada caíra.

Ainda a magicar no telefonema, olhei para o relógio que marcava 1 e 17. Afinal tinha dormido muito pouco tempo, o turno terminara às 10 horas e eu tinha-me deitado por volta da meia-noite.

Àquela hora, com aquele timbre de voz inconfundível, só podia ser Ana Brites, a linda ruiva que tinha conhecido há uns tempos atrás num bar do centro da cidade e que tinha tido com ela alguns encontros de circunstância.

Apesar da hora tardia, decidi aceitar o convite, porque não poderia desprezar um encontro tão prometedor, não só pela pessoa em si, como pelo mistério que o envolvia.

Saltei da cama, tomei um banho frio, porque o calor era muito. De seguida desci as escadas e saí para a rua.

Aguardei no passeio à espera do táxi que tinha acabado de chamar.

Enquanto olhava a noite que brilhava nas luzes das muitas lojas sempre abertas, interroguei-me acerca da estranha chamada.

Algumas respostas assaltaram-me a mente, mas nenhuma foi digna de nota, pois não passavam de puras especulações.   

− Estamos a chegar. – alertou o motorista.

− Encoste aqui por favor. – pedi ao taxista.

Percorri, sem pressa, cerca de uns quinhentos metros até chegar ao número 537.

Olhei para o 5º andar e vi luzes acesas em dois apartamentos. Um deles era o de Ana Brites. Os outros tinham as persianas corridas e pareciam estar apagados. A luz acesa indicava que ela sabia que eu não faltaria ao encontro e, por isso, estava à minha espera.

Dirigi-me para a porta de entrada e quando ia tocar à campainha a porta abriu-se e deixou sair um encapuzado com o rosto praticamente oculto. As roupas largas escondiam o corpo não deixando ver se era um homem ou uma mulher. Ainda pensei segui-lo para ver quem seria o figurão ou figurona que se escondia debaixo daquelas roupas.

Desisti da ideia e segurei a porta para que ela se não fechasse. Entrei, subi as escadas sem acender a luz e sem fazer barulho.

Quando parei em frente ao apartamento 4 C a porta estava fechada.

Toquei à campainha e esperei um bocado até tocar uma segunda vez, com alguma insistência.

Só se ouviu o som da campainha, nada mais, a porta continuou fechada.

Apurei o ouvido, mas nem um se fez ouvir dentro do apartamento, apesar do silêncio reinante.

Algo de estranho se estava passar, porque ainda há pouco tinha sido chamado de urgência e naquele momento estava a fechar-me a porta.

Desci e saí para a rua. Olhei para a janela do 5º andar e a luz continuava acesa. Atravessei a avenida e fui colocar-me no passeio em frente do prédio, onde permaneci algum tempo. Nada mais poderia fazer, a não ser olhar para a luz que teimava em continuar acesa.

A saída precipitada após o telefonema fez com que eu tivesse deixado o telemóvel em casa e, por isso, não lhe podia telefonar naquele momento. Assim que chegasse a casa iria tentar saber o que estava a acontecer.

Durante o regresso fiz o histórico desde o telefonema original a meio da noite e até ao momento em que cheguei ao apartamento 4 C.

Nada de anormal tinha acontecido, a não ser aquela pessoa encapuzada que saiu do prédio àquela hora da madrugada e que deixou a porta aberta, por onde eu entrei. O estranho não estava na saída àquela hora, mas deixar a porta aberta, para qualquer um poder entrar, como aconteceu comigo. Aquele comportamento de desleixo indiciava que a pessoa não vivia lá, pois caso contrário teria fechado a porta, por questões de segurança.

Fiz a chamada para Ana Brites assim que cheguei a casa, mas o retinir da campainha do meu telemóvel arrancou-me ao sono.

Estremunhado, sentei-me na cama e com as pontas dos dedos tacteei a mesinha de cabeceira até dar com o telefone. Levantei o auscultador e uma voz angustiada falou de rompante:

− Preciso de falar contigo, é urgente, vem ter comigo à minha casa.

Fiquei estupefacto! Era um “já visto” e visto há bem pouco, em sonho.

Não hesitei um segundo que fosse, porque precisava de chegar ao prédio antes que acontecesse alguma coisa. Teria de chegar, se fosse possível, antes da personagem encapuzada, ou antes de ela sair do prédio. Só assim poderia impedir a tragédia que o sonho não me desvendou, mas que eu penso que estava lá.

Em menos do que nada já eu estava a apanhar um táxi e a pedir que me levasse à direcção indicada o mais rápido que pudesse. Paguei a corrida, sem me preocupar em receber o troco.

Ainda o carro mal tinha parado já eu estava a correr para a porta que ainda se encontrava aberta. Parei à entrada e esperei que o encapuzado entrasse no elevador. Assim que a porta do elevador se fechou, comecei a correr escadas acima. Quando cheguei à porta do apartamento 4 C, ainda o elevador vinha no andar inferior.

Toquei à campainha e esperei.

Passados alguns segundos ouvi o rodar da chave na fechadura.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Share




0 comentários:

Postar um comentário