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quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Cristão é outra coisa

 

Não dou o outro lado da face. Sou cristão, sim, mas sem exagero e “mimimi”. O negócio é “direitos humanos para humanos direitos”, o resto é baboseira. Não tenho paciência de contar setenta vezes sete. Se Jesus fosse vivo hoje, se visse essa canalhada, teria feito uma bíblia diferente. Bolsonaro falou que Jesus andaria armado. Nosso Senhor não pisaria na terra de bobeira, com um bando de comunistinhas soltos por aí. Aquele tempo em que ele nasceu era o céu, não tinha bagunça, não. Homem era homem, mulher era mulher, e ponto. É tanto que ele não chamou mulher nenhuma para segui-lo. Teve uma enxerida lá, que queria acompanhar, a Maria Madalena, mas era puta e foi dispensada. No grupo dele tinha gente direita, de honra e princípios. Judas deu uma vaciladinha, bobagem, e acabou se matando. Jesus teria perdoado, certeza. Já fiz essas besteirinhas e nem por isso me matei. Se um otário deixar uma mala de dinheiro vivo na rua, ah, meu patrão, vai pro papo, já era! Quem mandou ser burro? É a lei da sobrevivência, quem chegar primeiro e for mais esperto vence a batalha. Nasci porque fui o mais sabido dos espermatozoides. Mas tem uns aí que parece que furaram a fila! Merecem levar umas porradas, isso sim! Comigo é tolerância zero. “Bandido bom é bandido morto!”, como no velho ditado. Se matassem uns trinta mil, o Brasil estava resolvido. É por isso que o País não vai pra frente. Pelo menos, umas boas lapadas nos couros dão uma aliviada no estresse. Ah, como é bom… Pego uns meliantezinhos, cara de pirangueiros, e meto a sola, umas duas vezes por semana. Lavo a alma. Vou com meu amigo Nonato, reformado da polícia. Ele fala o mesmo, que desestressa, faz bem à saúde. Não passo um mês sem o “Serviço Secreto do Cidadão de Bem”, o SSCB; no máximo duas semanas, quando tiro férias – e fico mal-humorado pra caralho. O SSCB se formou em 2018, com o objetivo de ajudar na reforma do país. Sou patriota e quero o bem do povo honesto, trabalhador. O grupo está aumentando. Entraram, recentemente, o Nazi – de Nazareno – e o Milico; dois homens do mais alto quilate. Jovens, assim, renovam os propósitos. Na última reunião que tivemos, Nazi decretou que vai partir para a matança se o “bandido de nove dedos” ganhar. Vou junto, me candidatei. A polícia está do lado do cidadão de bem. O nosso presidente vai bater palmas se livrarmos o país dessa gentalha, que suga o nosso dinheiro, acaba com as nossas famílias. Encontrei o Silva, outro dia, na igreja. Ele relatou que está meio desanimado com a política e que quer entrar no “corpo a corpo”. Chamei o garotão para participar da tropa, estamos precisando de homens de bom coração. Temos que nos defender do comunismo. É o maior mal que existe no planeta. Lascou um monte de país na América Latina, mas aqui não entra! Em 2023, o nosso presidente vai liberar mais armas, e não vai ter pra ninguém; rapidinho a bandidagem vaza ou entra na linha. Maria, minha esposa, está amargurada e triste estes dias. Pergunto, e ela não tem coragem de dizer o porquê. Aprendeu a respeitar cedo, deve ser por isso. Peguei ela novinha e ensinei o caminho certo. Ela é quase muda quando está comigo. É obediente e faz bem em cuidar do maridão, da casa e dos meninos. Sim, e é inteligente, entende o que é ter um homem dentro de casa, dando do bom e do melhor. Acabei o casamento com a Patrícia, minha ex, porque queria botar moral, ser a dona da situação. Foi uma luta de seis anos, até que ela fugiu, não aguentou a pressão. A minha filha, desse casamento, está nas mãos da pilantra. Ela conseguiu, não sei como, o direito de ficar com a guarda. Desgraçou a menina. A pirralha falou pra mãe que não quer mais sair com o pai. Isso é mentira. Na minha frente, a menina não fala nada disso; só chorou um bocado no dia em que prometi cortar o cabelo dela na tora se inventar de pintar. A mãe diz que eu assusto a donzelinha. Porra, ela tem treze anos, já sabe o que é certo e errado. Se estivesse nas minhas posses, seria outra coisa; ah, sim, seria. Os lá de casa, um com oito e o outro com seis, são bem-criados, compreendem as regras da boa cidadania patriótica. Têm de aprender na marra, pra serem homens de verdade, comprometidos com a causa maior, o Brasil. É assim, não tem jeito. Cada qual com a sua missão; essa é a minha. Missão dada é missão cumprida. Em nome de Jesus.




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