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quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A CONFISSÃO





Quem me conhece sabe o quanto gosto de contar essa historinha.

Uma vez, perguntaram ao Tom Jobim quem seria sua maior fonte 

de inspiração. Ele, sem tirar o charuto da boca: “o prazo”. 


Sábio Maestro Soberano. Nada é mais energético para a 

criatividade do que a disciplina e o compromisso de entregar 

alguma criatura num tempo previamente estabelecido. 

Ansiedade e aflição são combustíveis. Insegurança idem. 

A certeza de que não se vai conseguir criar algo de novo pode 

ser ilusória depois da coisa pronta, mas durante o processo 

é o real de filme de terror. Quando você sente o vazio criativo, 

no angustiante momento, nada contradiz a realidade do monstro 

que lhe aponta a faca atrás da cortina.


Quem me conhece sabe que todo dia 20 é dia de conto inédito 

aqui nesse honroso espaço. Ou mesmo uma crônica, posição 

onde não jogo tão à vontade. Mas dessa vez, o monstro venceu. 

Levei a facada. Não há conto novo - poderia apelar para meus 

livros publicados e requentar alguma história. 

Mas não. Nem para isso tenho coragem. 


Acabei de ler Leo Aversa no Globo, junto com Zuenir Ventura 

escrevendo pensamentos lindos sobre Darcy Ribeiro. Na minha 

cabeceira, alternam-se no momento Valter Hugo Mãe, Itamar 

Vieira Júnior, Antonio Torres e Cássio Zanatta, algumas páginas 

de cada vez, na velocidade voraz que a delícia dos textos me impõe. 

Aprendi a abrir escaninhos de leituras simultâneas na cachola 

e perdoem me se não seja coisa de leitor nobre, à altura dos autores. 

É meu jeito de aproveitar ao máximo o que a boa escrita alimenta.


Mas meu pedido de desculpas pode soar cretino, embora sincero.

 Dessa vez, não tem conto inédito. Apenas uma confissão do meu 

fracasso criativo, embutido numa sugestão de leituras verdadeiramente 

edificantes. Necessárias, obrigatórias, fortificantes para a alma. 

Ou melhor, um convite a ler o que ando lendo 

com supremo deleite. 


Sei não, acho que vocês vão sair ganhando.


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José Guilherme Vereza
Carioca, botafoguense, pai de 4 filhos. Redator, publicitário, professor, roteirista, escritor, diretor de criação. Mais de mil comercias para TV e cinema. Uma peça de teatro: “Uma carta de adeus”. Um conto premiado: “Relações Postais”. Um livro publicado “30 segundos – Contos Expressos”. Mais de 3 anos na Samizdat. Sempre à espreita da vida, consigo modesta e pretensiosamente transformar em ficção tudo que vejo. Ou acho que vejo. Ou que gostaria de ver. Ou que imagino que vejo. Ou que nem vejo. Passou pelos meus radares, conto, distorço, maldigo, faço e aconteço. Palavras são para isso. Para se fingir viver de tudo e de verdade.
todo dia 20


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