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terça-feira, 20 de agosto de 2019

Cosme e Damião

Perguntou o delegado enfurecido.
- Como é o seu nome?
Algemado, preso na cadeira, respondeu de olho no chão.
- Cosme e Damião da Silva.
O policial levantou a voz e o corpanzil.
- Tá de sacanagem comigo? Ou é Cosme ou é Damião?
- Já disse, doutor: Cosme e Damião da Silva.  Minha mãe
queria gêmeos. Só veio eu.  Meu pai registrou assim.
- Quer dizer que você é dois em um?
- Como o doutor quiser... polícia manda, preto pobre
obedece.
- Você roubou a bolsa da velha?
- Foi o Cosme.
O delegado mandou-lhe um cachação de derrubar cadeira
e suspeito juntos.
- Levanta, seu debochado. Quem vai apanhar agora é o Damião.
Pra deixar de ser dedo-duro.

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José Guilherme Vereza
Carioca, botafoguense, pai de 4 filhos. Redator, publicitário, professor, roteirista, escritor, diretor de criação. Mais de mil comercias para TV e cinema. Uma peça de teatro: “Uma carta de adeus”. Um conto premiado: “Relações Postais”. Um livro publicado “30 segundos – Contos Expressos”. Mais de 3 anos na Samizdat. Sempre à espreita da vida, consigo modesta e pretensiosamente transformar em ficção tudo que vejo. Ou acho que vejo. Ou que gostaria de ver. Ou que imagino que vejo. Ou que nem vejo. Passou pelos meus radares, conto, distorço, maldigo, faço e aconteço. Palavras são para isso. Para se fingir viver de tudo e de verdade.
todo dia 20


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