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sexta-feira, 16 de março de 2018

Viva (para M. que não conheci)



faz tempo que ser mulher não é obedecer 
a qualquer sina
ao destino alienado de acordar 
pra ser boneca de corda, recatada, feminina
pasto para o prazer
inconsentido, cocho para o caralho  
insaciável de José de Pedro de Antônio de qualquer mané
usada calada violada surrada sufocada pela ausência de opções 
ensinada como dogma, aplicada como droga
faz tempo que as amélias amorfas saíram do palco 
— caíram do palco
e um novo elenco de úteros (fecundado
pelo sangue menstrual da plebe)
pulou da coxia para falar às mulheres de 
coisas que as mulheres (ainda) não sabiam
direito, luta, sororidade, comunidade
cidadania, empatia
voz demais para os ouvidos loucos
para os carrascos toscos 
para a sandice psicopata dos 
paus-mandados para calar 
caçar 
executar — a 9mm
a voz-realidade que sorria um sol de forças
a mulher que não cabia, não cabe no
ódio-capacho dos covardes sem rosto
a voz teimosa, não silenciável, que 
transcende o corpo que tombou e segue guia
que mostra como é despudoradamente linda
— e para ser ouvida sempre
a mulher que faz a própria sina.
Marielle Presente!



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Cinthia Kriemler
Formada em Comunicação Social/Relações Públicas pela Universidade de Brasília. Especialista em Estratégias de Comunicação, Mobilização e Marketing Social. Começou a escrever em 2007 (para o público), na oficina Desafio dos Escritores, de Marco Antunes. Autora do livro de contos “Para enfim me deitar na minha alma”, projeto aprovado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal — FAC, e do livro de crônicas “Do todo que me cerca”. Participa de duas coletâneas de poesia e de uma de contos. Membro do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal e da Rede de Escritoras Brasileiras — REBRA. Carioca. Mora em Brasília há mais de 40 anos. Uma filha e dois cachorros. Todos muito amados.
todo dia 16