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sábado, 16 de maio de 2015

Avareza

Se um corpo A aplicar uma força sobre um corpo B, receberá deste uma força, 
de mesma intensidade, mesma direção e de sentido contrário.
                                                                               (Isaac Newton)

Intensidade

Você quer cinco reais? Assim, de graça, menina? Não. Primeiro coça aqui as costas do papai. Mais um pouco... Isso... Muito bom. O dinheiro é para quê? ... Sorvete? Ah, não! Pensei que era pra coisa séria. Pra besteira não tem dinheiro, não! ... Mas o que é isso? Sem choro, menina. Para de chorar. Ah, não vai parar? Então, você agora me deve R$10,00. E se continuar chorando a dívida aumenta pra R$15,00. Pão-duro? Eu? Cala a boca, mulher! A menina precisa aprender que dinheiro não cai do céu! Cinco reais! Desse tamaninho e já pede logo cinco reais!! Sabe quanto tempo eu levo para ganhar esse dinheiro? Sabe o que eu preciso fazer para ganhar o que eu ganho? E o meu dinheiro não é capim, não! Não nasce em árvore! Quer saber? Você está de castigo, menina! Só sai do quarto quando entender o valor do dinheiro.


Direção 

Você cresce, cresce e não aprende, não é, menina? É isso mesmo! Coloquei corrente da geladeira, sim! Por acaso está na hora do almoço ou do jantar? Se quiser água, tem no filtro. Mas dentro da geladeira não tem nada que interesse a ninguém agora. Mas era só o que me faltava! Eu sei que a sua mãe fez gelatina escondido de mim. É isso, não é? Se eu tivesse visto, não tinha esse desperdício, não! Mas já que fez, é sobremesa. Só depois do jantar.


Sentido contrário 

O quê? O papai quer ir para um hospital particular? É isso mesmo que eu ouvi? Ele quer que eu pague para ele ficar sozinho num quarto? Que desperdício! O que é que ele está pensando? Que eu tenho dinheiro para jogar fora? Ele sabe o que eu preciso fazer pra ganhar o que eu ganho? Além do mais a doença dele é terminal, mamãe. Não importa em que hospital ele esteja, nós duas sabemos que ele vai morrer. E vai morrer logo. Então, para que esse luxo todo? ... Ah, mamãe, para de chorar! Se você continuar chorando eu vou desligar o telefone. 



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Cinthia Kriemler
Formada em Comunicação Social/Relações Públicas pela Universidade de Brasília. Especialista em Estratégias de Comunicação, Mobilização e Marketing Social. Começou a escrever em 2007 (para o público), na oficina Desafio dos Escritores, de Marco Antunes. Autora do livro de contos “Para enfim me deitar na minha alma”, projeto aprovado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal — FAC, e do livro de crônicas “Do todo que me cerca”. Participa de duas coletâneas de poesia e de uma de contos. Membro do Sindicato dos Escritores do Distrito Federal e da Rede de Escritoras Brasileiras — REBRA. Carioca. Mora em Brasília há mais de 40 anos. Uma filha e dois cachorros. Todos muito amados.
todo dia 16


2 comentários:

As mazelas do Positivismo - quando poderia ser só o positivismo, mesmo... Isso nem me causa mais surpresa, dada a forma selvagem como estamos ferrando tudo. Mas - Cínthia! - pegar uma tese científica e aplicar-lhe lirismo?! Abaixo outras práticas! E deixo aqui minha gratidão com pelos arrepiados, viu?

Gina, como eu te agradeço a leitura lúcida! Fiquei muito feliz com o comentário! Beijos!

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