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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Notas desde o Fim do Mundo (excerto)

Notas desde o Fim do Mundo
Texto e tradução: Henry Alfred Bugalho

http://www.wattpad.com/story/29132793-notes-from-the-end-of-the-world

Manuscrito recuperado em um sotão em New Lexington, OH (EUA)
Robert Campbell, Jr.

Porque escrevo

Eu escrevo.

Por quê?

Porque não há nada mais para se fazer. Porque não há mais ninguém com quem conversar. Porque é uma afirmação existencial de que eu ainda existo.

Escrevo, logo existo.

Encontrei esta velha máquina de escrever Remington no meu porão. Coisas velhas do meu avô. Ela sempre esteve lá. Bem, pelo menos desde que ele morreu vinte anos atrás. Só decidi dar uma olhada naquelas caixas depois que o mundo acabou; então desci, procurando por alguma razão que justificasse o fato de estar vivo; por algum motivo para me manter persistindo, mesmo não havendo um sentido superior ou transcendental para a vida. Se havia Deus ou deuses ou santos, todos eles morreram junto com o restante da humanidade. Encontrei muitas e muitas fotos, e uma infinidade de cartas. Meu avô havia lutado na Segunda Guerra Mundial. Aqui e ali eu podia ver uma foto dele em seu uniforme, trajando um sorriso de orgulho, provavelmente contente por estar lutando contra os nazistas em algum rincão da Europa. Um salvador do mundo contra as forças malignas do Eixo. Que bela vida ele deve ter tido nesta época! Depois, ele se casou com a minha vó, tiveram cinco filhos, acomodaram-se nesta casa e o resto é história.

Meu pai cresceu nesta casa, e juro que, de vez em quando, posso ver o fantasma dele vagando por estes corredores e quartos à noite. Talvez seja apenas a minha imaginação, ou talvez eu também esteja adoecendo e morrerei em uma semana ou duas. Delírio... Este é um dos sintomas da doença que extinguiu o homo sapiens sapiens da Terra.

Minha família se mudou para cá depois que meu avô morreu. Eu era um adolescente neste período e, para mim, parecia mais uma punição; deixar todos os meus amigos em Manhattan para vir para este subúrbio sem vida e tedioso. Logo que eu tive uma oportunidade, retornei a Nova York para estudar, conheci minha esposa e não retornei mais para este lugar por alguns longos anos. Por que eu viria para cá? Por que eu deixaria as luzes da cidade e as intermináveis aventuras da Big Apple para voltar para isto?

Entretanto, quando tudo começou, quando todos começaram a morrer, e a voltarem à vida novamente como cruéis e imbecis animais, não consegui pensar em melhor lugar para me esconder.

O mundo acabou seis meses atrás (eu acho, porque não tenho computado precisamente o tempo; tudo que sei é que era verão durante a epidemia, e que estava nevando pesadamente lá fora hoje de manhã), e durante este período eu levantei muitas centenas de indagações. Mas uma recorrente, que me assombra a cada santo dia, que ainda estou tentando responder é:

Por que eu sobrevivi? Por que sou o único que restou?


Trecho do work-in-progress Notes from the End of the World, disponível para leitura em inglês no WriteOn e no Wattpad

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