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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Aquele jardim

Começo hoje a escrever na SAMIZDAT e inicio com um texto que fala sobre volta. Não é um contrassenso. Ao menos assim vislumbro.

Sinto este espaço como o de uma constante volta a um jardim de delícias, aquele jardim que nos abastece e alimenta a alma. Jardim de palavras e de amor. De comer e beber palavras. Aquele jardim. Vamos? 

Aquele jardim





Voltei àquele jardim para ouvir. Não apenas a voz do vento, não apenas a voz das árvores, cujas folhas balançavam. Mas para ouvir teus olhos. E meus pés indo e vindo no balanço, a respiração procurando de novo criar um ritmo próprio.

Voltei àquele jardim porque foi nele que tudo começou. Alice em meio ao País das Maravilhas, lá estava eu desejando não mais correr atrás de nenhum coelho branco.
E ficar de um só tamanho, o meu.

Voltei àquele jardim porque tuas fadas me chamaram. Lá as feras são calmas e conversam com a gente, desenhando nuvens no gramado que eu não fiz. Não plantei nenhuma daquelas plantas e nem mesmo sei como se chamam. Não conheço seus donos. Apenas agradeço me deixarem em paz.

Voltei àquele jardim para ouvir minha mãe, que disseram andar por lá. Mas não a vi. O sol fala na minha pele e eu ouço os antúrios, que são sempre sábios e disseram eu tivesse paciência. Só não especificaram em quê.

Voltei àquele jardim para te perder e não me achar. E te achar e me perder e talvez um dia me achar por aí em outro jardim parecido. Ou no telhado de alguma casa, a cidade desconhecida e eu abrindo um livro verde, o livro da tua história, que encontrei e concluí.


Voltei àquele jardim para de lá nunca mais regressar. A cidade sumiu e só ele restou, jardim rotatório onde tu és criança e eu velha. Onde adentra meu ventre recolhido, com a doçura que nunca pude tocar. Com o amor de quem veio de longe, e ficará. 

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