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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pretérito imperfeito



Estivera ali enquanto todos já tinham ido. Uma chuva no vidro do apartamento do sexto andar – ruídos da véspera de carnaval – lavando o estranhamento daquele que olhava para mim. O movimento natimorto do centro da cidade proporcionava escutar o eco das esquinas. Já no banheiro de móvel novo – largou o relógio, um eco seco rememorou os verbos pessoais ditos.
A manhã de sexta começava de forma inusitada. Após mais de 24 horas, finalmente o sol ocupava o lugar das chuvas constantes. O feixe amarelado refletia ainda mais diante do seu par de olhos claros. Entre um café com cereais e frutas – recomendação da reeducação alimentar – conversas misturavam-se com os fatos apresentados pelos jornais e a péssima conexão do 3g. 
O baile de carnaval até hoje não significava tanto quanto saber que exatamente no domingo ela completaria 31 anos – balzaquina – e eu faria uma bela surpresa. A alegoria estava pronta: renegar toda a birra com a festa. Desde menino a lembrança mais presente era a partida do vovô na terça de carnaval e o enterro na quarta de cinzas.
No corte pequeno da gilete durante a depilação do peito que fez o sangue escorrer misturado com a espuma em torno do ralo – os acontecimentos caiam com ardume, igualmente da abertura do machucado por encontrar o sabonete. Ali a máscara e a serpentina abriam alas, passando pela manhã. O divertimento do silêncio diante desse outro que não o eu da realidade. 
O trabalho sério da tarde não deixara dúvidas que os guarda-chuvas eram necessários depois deles partirem. A dúvida concentrava-se na tormenta de saber – sobras de uma festa. Feito os acertos com clientes e um adiamento de um serviço, pude procurar um melhor lugar no prédio e mandar uma mensagem pelo celular.
Não morri, por isso escrevo e penso – hoje ela seria uma colombina e poderíamos estar em algum baile de carnaval pela cidade.

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