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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Fragmento de romance - Clarissa


Abaixo segue o fragmento de um romance que teve sua primeira versão escrita no mês de novembro, durante o projeto do NaNoWriMo, e que desde então vem sendo reescrito.

Aproveitem.

***


Quando criança gostava de acordar cedo, antes dos pais. Ir para fora de casa, escutar os sons dos pássaros, sentir o vento no rosto, o calor dos raios do sol que aqueciam sua pele. Fechava os olhos e imaginava estar em lugares diferentes. Acima de tudo, imaginava ser feliz. Nos dias de chuva, proibida de ir para rua brincar com a água, consolava-se ao brincar com as gotas d''água que escorria pela janela. E da mesma maneira que nos dias de sol, nos dias de chuva ela também fechava os olhos e deixava a imaginação fluir, deixava-se invadir por aquela sensação de felicidade.  Tinha os olhos brilhantes. E imaginava sempre ser feliz.

Para Clarissa era fácil imaginar-se feliz. Ela era criança e era feliz. A sua ideia de felicidade era estar com sua mãe e com o seu pai. Quando a mãe lhe chamava para o café, às vezes, parecia que os olhos brilhavam mais, mais do que quando estava imaginando, porque agora ela deixava de brincar de ideias, de imaginar felicidade. Ela podia aproveitar e gozar dessa felicidade que ela imaginara.
O pai só trabalhava a tarde, mas sempre acordava cedo para preparar o café da manhã para ela e para sua mãe. Ele gostava, principalmente, de olhar pela janela da cozinha, o pátio com a grama verde brilhante e Clarissa correndo e brincando. No início, ele não sabia ao certo o que ela fazia todos os dias de manhã, na rua. Um dia, porém, com uma xícara de café em um das mãos Roberto caminhou o pequeno percurso de onde estava, diante da janela e foi até a porta da rua, onde podia ouvir e falar com Clarissa. A menina não percebeu que o pai se aproximava.
- O que você faz aí Clarissa? Se continuar se rodeando você vai cair.
- Não vou não pai. To só aqui, tendo ideias.
- Ideias boas - Roberto comentou não se aguentou e sorriu para a filha. Sorriu para si.
- Sim, ideias de ser feliz.

O pai parece surpreso com a resposta, franziu a testa, pensou no que iria falar.
- Ideias de ser feliz? Você esta triste?
- Eu não. Como ia estar triste se tenho ideia de ser feliz. Ah papai.
- Mas então por que essas ideias de ser feliz?
- Ora, pra continuar sendo feliz com você e com a mamãe.

Clarissa parava de rodear, o pai deixando os pensamentos de lado, pousou a xícara sobre o balcão, próximo a porta, e correu para pegar a filha no colo, antes que ela começasse a perder o equilíbrio. Então a rodeou mais algumas vezes, antes que ele próprio ficasse tonto.
Maria Alicia, a mãe de Clarissa, aproximava-se da cozinha nesse instante, arrumava o cabelo e começara a falar com Roberto, quando percebeu que estava sozinha no ambiente. Ouviu algumas risadas. Dirigiu-se até a mesma porta, que se podia ver o pátio da casa, e viu pai e filha rindo um para o outro. Ela deixou os cabelos soltos, que selvagemente se ajeitaram, e perguntou-lhes:
- O que vocês estão fazendo?
- Ora mamãe, a gente esta sendo feliz
Maria Alicia olhou para Roberto e ambos riram. E resolveu também ser feliz, correu para eles e os abraçou.
- Viu papai, como é.

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