Receba Samizdat em seu e-mail

Delivered by FeedBurner

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A entrevista

Era um dia cor de cinza. Daquele jeito, chove não chove. Eu andava apressado, rezando para que não chovesse. Eu tinha uma entrevista de emprego e não queria chegar molhado na local. Nervoso? Não sei se a palavra seria nervoso. Eu apenas queria chegar no local e terminar logo com aquilo. Talvez fosse nervosísmo ou ansiedade. Nunca soube ao certo, como entender as minhas emoções.

Uma vez um psiquiatra disse que eu tinha questões a resolver com o meu pai. Meu pai havia morrido há 20 anos lhe respondi. Como ele esperava, que eu acertasse as coisas com o meu pai? Eu não gosto muito desses psico qualquer coisa. Eles acham que entendem a gente, que conseguem saber como nos sentimos, mas no fundo, eles não entendem nada, nem a si próprios.

O pensamento voa e o tempo também. Pensando em coisas absurdas esqueci do meu compromisso e por pouco, não me atraso para entrevista. Quando cheguei, fui logo atendido. Entrei na sala.

O rapaz se apresentou como sendo um funcionário do RH. Tinha um cara de psicólogo, com aquele olhar me analisando. Ao lado dele estava o gerente da área, para a qual eu seria contratado. Esse tinha cara de psiquiatra. Porra, onde é que eu estava me metendo. Após as apresentações, um deles perguntou-me se poderíamos começar. Respondia confiante que sim.

- Se você estivesse escrevendo um livro sobre assassinatos, qual a maneira mais assustadora que imaginaria para matar uma de seus personagens?

Eu segurei o meu espanto. Porém não pude evitar o pensamento. Que porra de entrevista é essa. Eu não me ligo muito nessas coisas. Eu seria contratado para coordenar uma equipe de técnicos de informática. O que uma coisa tinha a ver com a outra? Pensei um pouco e pensei que aquilo só podia ser uma pegadinha, pois bem eu não estava a fim de trabalhar numa empresa que ficam brincando com os funcionários, mas acima de tudo, profissionalismo. Mas tudo bem, respondi fundo e…

- Senhores, eu nunca havia pensado em ser escritor. Não tenho essa pretensão.
O outro, então me perguntou
- Então qual a maneira mais assustadora que você imagina para matar uma pessoa?

Ah, claro eu passo metade do meu tempo pensando em matar pessoas. Escritor não, assassino sim. Pensei. Não disse nada apenas sorri e comecei a imaginar como eu poderia matar aqueles dois na minha frente. Quem sabe, se eu trancasse cada um deles com dois idiotas fazendo perguntar estupidas?

Deixe-me levar pela minha imaginação e resolvi dar o meu melhor. Comecei mais ou menos assim:

Embora, eu não acredite que matar alguém seja algo que lhe assuste o defunto. Eu faria provavelmente por etapas, faria com que ele sofresse aos poucos. A primeira coisa seria identificar as pessoas que a vítima amasse. O passo seguinte seria ameça-lo. Eu imaginava um daqueles dois sendo minha vítima, e comecei gostar da ideia.

Imagine você entrar em casa e encontrar seu filho espancado no quarto e sua mulher estrupada na sala. Seria coisas que eu faria primeiro. Depois quando estivesse apenas a vítima em casa, eu entraria sem que ele percebesse, pois eu teria cópias das chaves das portas graças a um amigo chaveiro. E ficaria na cozinha da casa dele tomando café, fazendo barulhos e sairia antes que ele me visse.

Eu continuaria nessas assombração por semanas. Inventava encontros com o filho e com a esposa, em lugares onde não houvesse sinal de celular e ligaria para ele dizendo que eu os tinha sequestrado. Apenas para sentir-lhe sofrer.

Chegaria o dia, no qual teria que tirar-lhe a vida. Eu lhe trancaria em uma sala. Ele estaria preso de uma lado da sala, com uma corrente em uma das pernas. Próximo dele uma cerrote ou uma cerra. Do outro lado da sala. Haveria uma mesa e sobre ela, fósforos e recipientes com gasolina dentro. No meio dessa sala havia uma caixa d’agua. Eu não iria mencionar isso, mas caso ele não aguentasse as queimaduras, poderia tentar se salvar. Deveria decidir entre uma vida e outra.

Eu forjaria um video, no qual havia matado o filho dele e estrupado a esposa. Eu mostraria em um telão um video por vez, apenas para lhe ver o sofrimento. Então lhe diria que a única maneira para evitar o sofrimento da esposa e salvar-lhe a vida era se ele tirasse a própria vida. E para fazer isso ele deveria incendiar o próprio corpo.

Lembraria que a única maneira para fazer isso era cortar a própria perna. Um pouco clichê, mas ele precisava provar que era forte.

Eu contava que ele fizesse tudo isso e assim que tivesse prendido fogo em si mesmo eu lhe mostraria uma outra realidade.

No local onde ele estaria trancafiado, tinha uma parede de vidro. Assim que ele estivesse pegando fogo, eu lhe mostraria a família, o filho e a esposa, saudáveis, sorrindo em uma sala de espera. Diria que eles estavam esperando por mim que os levaria para casa.

Apostando quando visse sua família ele tentaria se salvar, ou quando percebesse que estaria morrendo o instinto de sobrevivência fizesse com que ele buscasse uma maneira de salvar-se. Nesse momento, eu o veria jogar-se na caixa d’agua. Mas ele perceberia que ao invés de água havia álcool líquido no recipiente.

Eu ouvi os olhares dos meus entrevistados. Eles estavam com aqueles rostos de surpresa, que ouvem o que não esperavam.
- Um pouco cruel, você não acha?
- O que posso dizer? Assisto muita TV.

Preparava-me para levantar, quado..
- Interessante. Agora gostaríamos que você listasse 5o maneiras de matar alguém com um celular.

Puta que pariu. Pensei. Que merda de entrevista era aquela, 50 maneiras de matar alguém. Eu acho que estou sendo entrevistado para matar pessoas. Bem devo estar indo bem, respirei fundo, mas meus olhos realmente queriam matar e comecei:

1) Bato com o celular múltiplas vezes na cabeça da pessoa?
2) mostro-lhe a fatura no final do mês
3) Faço o usar continuamente durante anos para que ele desenvolva um cancer
4) Quebro o celular em pedaços, alguns pontiagudos e faço a pessoa engoliar. No processo digestivo ele os pedaços pontiagudos lhe cortarão as tripas
5) Afio um das partes do celular e lhe corto a garganta… Eu sentia a raíva crescendo em mim.
6) Instalo um aplicativo que controle a sua mente e ordeno-lhe que se mate.
7) Enveneno o celular com uma droga poderosa e quando ele o tocar será contaminado
8) Tranco-lhe em quarto apenas com o celular ligado, mas sem sinal de internet. Morte por tédio
9) uso o celular como uma bomba
10) uso o celular como o alvo de um missel teleguiado
11) atiro o celular de uma altura de 20 andares na cabeça da vítima
12) ativo a rede de telefonia em um avião nos ares. Os ondas magnéticas farão com que o avião caia.
13) ativo meu aplicativo de sabre de luz e mato a pessoa
14) corto-lhe os pulsos com celular
15) Enfio-lhe o celular no cu e o deixo sangrando até morrer.


Eu não conseguia pensar em mais nada, mas olhando para aqueles dois, eu reirei o celular do bolso e joguei no rosto do mais velho. Enquanto ele se protegia, eu comecei a bater na cabeça do mais novo com uma das cadeiras e quando terminei, repetia o mesmo com o mais velho.


Estava certo que não ganharia o emprego, mas que se dane, havia descoberto uma nova carreira para minha vida. 

Share