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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

UMA HOMENAGEM A MACHADO DE ASSIS

Amigos, faço uma pausa em meus microcontos, e, nesta edição, publico um conto em homenagem ao Bruxo do Cosme Velho, que há 104 anos partia; deixando o seu nome escrito para sempre entre os Mestres da Literatura Universal. O texto “Memórias Póstumas de Joaquim Maria” foi meu segundo texto a ser premiado em um concurso nacional – (Cordeiro/RJ) – no ano de 2008. Apresento-lhes o texto abaixo:
E, desde já, obrigado pela leitura.
Edweine Loureiro
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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE JOAQUIM MARIA
                        
― Não aceitei a Deus. E agora? – pergunta-se o criador de Dom Casmurro, enquanto vaga pela casa, observando o próprio velório.
Em um canto da sala, três companheiros de Academia conversam em voz baixa. Machado de Assis, aproximando-se, escuta:
― É… lá se foi o mulato... – lamenta Euclides da Cunha.
― Uma grande perda para as letras… – observa Graça Aranha, para logo em seguida, pigarreando, completar: – Se bem que em Esaú e Jacó ele começava a demonstrar um certo desgaste. O ilustre amigo concorda?
― Desgaste eu não diria, mas uma certa repetição no tom da narrativa… Por exemplo, aquela ironia já estava se tornando maçante…– responde Olavo Bilac.
O espírito (Ou sei lá o quê! – Como queira o leitor chamar ao estado pós-morte!) ri-se do comentário:
― Maçante? Sim… Tens razão, papa-defuntos…
E voa (literalmente) para outro grupo – agora composto por Joaquim Nabuco, Mário de Alencar e Rodrigo Otávio – os quais, em meio a café e bolinhos, discutem uma das obras mais célebres do finado. Primeiro, escuta-se a voz de Alencar:
― Tudo imaginação do Bentinho!…
― Não, senhor: a Capitu o traiu!…” – discorda Rodrigo Otávio.
E o outro imortal, ao lado:
― Concordo com Rodrigo. Foi traição.” – arremata Joaquim Nabuco.
Mas uma quarta figura intervém: – Nada de conclusões precipitadas, senhores… Lembrem-se de que o nosso querido Machado adorava discorrer sobre a contradição humana… – E, tossindo, Rui Barbosa acende mais um charuto.
O espectro (voilà, caro leitor!) resolve deixar de lado aquela discussão e vai até o féretro, para examinar – agora mais atentamente – o cadáver. Por alguns segundos, olha fixamente para a máscara da morte no corpo que outrora habitara, para em seguida, suspirando, concluir:
― É, Quincas… realmente: ao vencedor, as batatas.
***

Nota: O Conto Memórias Póstumas de Joaquim Maria recebeu o Terceiro Lugar no IV Concurso Nacional de Contos de Cordeiro (RJ) – Troféu Machado de Assis” (Setembro de 2008).

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Edweine Loureiro
Nasceu em Manaus em 20/09/1975. É advogado, professor de Literatura e Idiomas, e reside no Japão desde 2001. Em 2005, obteve o Mestrado em Política Internacional pela Universidade de Osaka (Japão). Premiado em diversos concursos literários, é autor dos livros: Sonhador Sim Senhor! (Ed. Litteris, 2000), Clandestinos [e outras crônicas] (Clube de Autores, 2011) e Em Curto Espaço (Ed. Multifoco, Selo 3x4, 2012). É membro-correspondente da Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências (RJ) e da Academia de Letras de Nordestina (BA).
todo dia 24


4 comentários:

Grande homenagem do grande mestre Edweine a Machado de Assis.
Belo conto, duplo parabéns: pela obra e também pelo prêmio! Merecido.
Abração.

Muito obrigado, meu bom amigo Gera. Pelas palavras, pelo apoio constante. Abracao, meu bom companheiro de letras.

Reunião de grandes escritores num criativo conto de Humor negro bem sacado parabéns.

Obrigado, Jr, pela visita e pelo comentario. Abracos literarios.

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