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terça-feira, 10 de julho de 2012

Dickensianas

Henry Alfred Bugalho


Dickensiana

De dia, ela e outras duzentas operárias na fábrica. Mas, no refúgio de seu quartinho, à noite, ela povoava o mundo com as mais incríveis histórias, a dona suprema de seu universo secreto.

O Legado

Tal qual em um sonho, o escritor assistiu a seus personagens desfilando diante de si.
Reconhecia-os bem por seus gestos, falas e fisionomias; todos eles únicos como se fossem filhos. Alguns detestáveis, inesquecíveis pela maldade, mas outros eram gentis e bons, exemplos de virtude.
O autor despedia-se deles, certo que cumprira sua missão. Acenando pela janela para cada um que saía pela porta, embrenhando-se pela Londres adormecida, ele sussurrou:
— Sejam imortais, meus caros...



Um Labirinto

Vim de muito longe para encontrar-te, pelo labirinto de ruas que traçaste em minha imaginação.
Pensei que me esbarraria nos entes que concebeste, todos tão presentes e vivos para mim, mas não os encontrei.
A cidade se transformou, já não é mais cinza e suja, já não é mais repleta de ladrões e limpadores de chaminés, nem de órfãos e viúvas em fábricas.
Dias e noites vários deambulei em vão.
Enfim, nas páginas amarelecidas de um volume esquecido num banco de praça, tu te revelaste. Então tudo fez sentido.


Henry Alfred Bugalho
Formado em Filosofia pela UFPR, com ênfase em Estética. Especialista em Literatura e História. Autor dos romances “O Canto do Peregrino” (Editora Com-Arte/USP), "O Covil dos Inocentes", "O Rei dos Judeus", da novela "O Homem Pós-Histórico", e de duas coletâneas de contos. Editor da Revista SAMIZDAT e fundador da Oficina Editora. Autor do livro best-selling “Guia Nova York para Mãos-de-Vaca”, cidade na qual morou por 4 anos. Está baseado, atualmente, na Itália, com sua esposa Denise e Bia, sua cachorrinha.

http://www.henrybugalho.com/


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2 comentários:

As obras de Dickens são excelentes fontes de inspiração.
Lendo as tuas Dickensianas revi mentalmente Oliver Twist, O Conto de Duas Cidades e uma obra que tenho especial paixão: Grandes Esperanças.
Muito bom texto. Suave, delicado que contracena muito bem com o estilo de Dickens.
Parabéns.
Adriane

Obrigado pela leitura, Adriane.

Realmente, Dickens é um dos grandes, um dos mais hábeis romancistas de todos os tempos, que consegue nos fazer chorar e sorrir num intervalo de poucas páginas.

Abraços.

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