no ônibus há tanta gente em pé quanto sentada
estou sentado
entre a janela e uma senhora
de casaco de lã marrom
e detalhes dourados
(escurece)
pessoas falam ao celular
outras falam entre si
crianças falam sozinhas
ninguém fala com o motorista
no corredor há uma luz azul
fantasmagórica
nas poltronas
luzes amarelas indicam em que números deve-se sentar
sobre a cabeça do motorista
um display mostra que já se passaram dezenove horas e onze minutos do dia de hoje
mas no ônibus respira-se o mesmo ar
e há vários de nós temendo que esteja contaminado pela doença da vez
no pára-brisa
luzes amarelas vêm
luzes vermelhas vão
luzes brancas e alaranjadas estão paradas
à distância
(mas se aproximam
em relação a nós)
alguém explica
a uma criança
o que fazer se o ônibus incendiar
riem
a criança ri
"tem que quebrar a janela, nenê"
"se queimarem a porta e as janelas
vai queimar todo mundo
né
mãe?"
"vai"
eu penso
e se não for dessa vez
será numa próxima
estamos atolados
estamos todos com água até os joelhos
alguns até a pança
outros já precisam erguer a cabeça para respirar
o ar é infecto
andamos todos juntos
com a água subindo
na iminência de o ônibus pegar fogo
andamos
falando ao telefone
ou uns com os outros
ou sozinhos
a água sobe
e um de nós
está acendendo uma luz acima de si para escrever idiotices
ouvindo gente espirrando e tossindo
(será que eles não veem?)
na escuridão do corredor
sobre oito das poltronas
painéis luzem em vermelho
"saída de emergência"
no ônibus há tanta gente em pé quanto sentada
estou sentado
entre a janela e uma senhora
de casaco de lã marrom
e detalhes dourados
vejo um carro parado
não choveu
mas suas rodas estão enfiadas numa poça d'água
até quase a metade
vejo uma fazendinha
com cavalos pastando num campo alagado
há um ou dois deles com a água tocando-lhes a pança
(escurece)
pessoas falam ao celular
outras falam entre si
crianças falam sozinhas
ninguém fala com o motorista
no corredor há uma luz azul
fantasmagórica
nas poltronas
luzes amarelas indicam em que números deve-se sentar
sobre a cabeça do motorista
um display mostra que já se passaram dezenove horas e onze minutos do dia de hoje
mas no ônibus respira-se o mesmo ar
e há vários de nós temendo que esteja contaminado pela doença da vez
no pára-brisa
luzes amarelas vêm
luzes vermelhas vão
luzes brancas e alaranjadas estão paradas
à distância
(mas se aproximam
em relação a nós)
alguém explica
a uma criança
o que fazer se o ônibus incendiar
riem
a criança ri
"tem que quebrar a janela, nenê"
"se queimarem a porta e as janelas
vai queimar todo mundo
né
mãe?"
"vai"
eu penso
e se não for dessa vez
será numa próxima
estamos atolados
estamos todos com água até os joelhos
alguns até a pança
outros já precisam erguer a cabeça para respirar
o ar é infecto
andamos todos juntos
com a água subindo
na iminência de o ônibus pegar fogo
andamos
falando ao telefone
ou uns com os outros
ou sozinhos
a água sobe
e um de nós
está acendendo uma luz acima de si para escrever idiotices
ouvindo gente espirrando e tossindo
(será que eles não veem?)
na escuridão do corredor
sobre oito das poltronas
painéis luzem em vermelho
"saída de emergência"
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