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segunda-feira, 18 de maio de 2009

Prêmio Ig Nobel

Caio Rudá de Oliveira

Eu tento entender a humanidade; eu juro que tento. Porém tem certas coisas que fogem da compreensão de qualquer ser humano. Para mim, o mundo perdeu a sua capacidade de surpreender.

Na História, sempre houve o contraponto entre bobos e inteligentes. Os primeiros servindo de matéria para o estudo dos segundos, que por sua vez oferecem resultados e melhorias para o bem comum. Uma espécie de mutualismo. Ultimamente, no entanto, as coisas têm se confundido. Tem surgindo toda sorte de pseudointelectuais e também cientistas aos quais adjetivar 'estúpidos' é de um eufemismo ímpar. Portanto, fica difícil definir os bobos e os inteligentes. Deve haver alguns poucos que se encaixam fielmente nessas categorias, mas hoje eu aposto numa maioria híbrida. E como se sabe, híbridos são animais estéreis.

Logo, inférteis são também suas produções, artísticas ou científicas. Não contribuem lá com muita coisa. No máximo garantem o troféu eu-fiz-algo-em-minha-vida ao seu mentor. Assim, tudo bem que não acrescentem nada, mas também ser uma experiência tão inútil que não vale toda a demanda de esforços, dinheiro e tudo o mais é o fim da picada. Os artistas ainda têm a licença de transcender, ousar e não ter lógica. Ciência é feita de método e aplicação prática; um pouco de seriedade cai bem. No entanto, esses preceitos básicos para se fazer ciência parece terem sido esquecidos pelos novos Einsteins. Todo ano, inúmeras experiências e pesquisas, no mínimo, inúteis são realizadas. Alguns, além de sem serventia são engraçados, chegam a ser patéticos e beiram o bizarro. E para completar, já que a espécie humana é por demais oportunista, até existe prêmio para contemplar esses gênios e seus experimentos interessantes. É o tal do Ig Nobel Prize, ou Prêmio Ig Nobel.

Desde 1991, são distribuídos prêmios em diversas categorias para as 'pesquisas que fazem as pessoas rirem e depois pensarem', como sugere o lema do grupo que organiza as cerimônias. Cerimônias essas que, pasmem, são realizadas com a colaboração da Universidade de Harvard.

Todo tipo de despropósito já foi catalogado e premiado. Só não sei se o critério é recompensar os mais dementes ou os menos, dentro do contexto dos cientistas malucos. Esses professores Pardais, aliás, são laureados em uma festa pomposa, semelhante ao parodiado Prêmio Nobel. Vale citar alguns desses destemperos:

Em 2007, na categoria Paz, o Air Force Wright Laboratory foi o vencedor, por sugerir a pesquisa de uma 'bomba-gay' que faria as tropas inimigas sentirem uma atração sexual mútua. No mesmo ano, na categoria Linguística, Juan Manuel Toro, Josep B. Trobalon e Nuria Sebastian-Galles receberam as honras por descobrirem que ratos às vezes não conseguem diferenciar gravações de japonês e holandês tocadas reversamente. Em 1995, cientistas japoneses e seu treino de pombos para distinguirem pinturas de Picasso das de Monet também foram laureados, em Psicologia. Três anos mais tarde, foi concedido prêmio em Estatística a Jerald Bain e Kerry Siminoski, do Canadá, por seu estudo sobre o peso, tamanho do pênis e comprimento do pé. Também entra na lista uma tese de Ph.D. sobre a história das lojas de donuts canadenses, um spray para detectar a infidelidade de um marido, um dispositivo ao qual se amarra uma mulher prestes a dar à luz e gira em alta velocidade para auxiliar o parto, imãs que levitam um sapo e também um lutador de sumô, a descoberta de que o buraco negro preenche todos os requisitos para a localização do inferno. E é daí para pior.

Resta saber quem são os mais débeis: os cientistas ou quem os premia.

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