Você lembra o que estava fazendo no dia 11 de agosto de 1999?
Eu me lembro...
Durante o começo de mês de agosto, e até um pouco antes, começaram a ser divulgadas notícias de que o mundo acabaria quando do eclipse solar em 11 de agosto. A fonte era "fidedigna": o pai de todas as calamidades futuras, Nostradamus.
Eu e um amigo nos sentamos na pracinha do condomínio onde morávamos, sob a sombra duma árvore e aguardamos. "Se o mundo acabar, tudo bem", pensávamos, "se não acabar, tudo bem também". Passamos o dia inteiro conversando e esperando, esperando e conversando.
Nesta nossa espera, havia um quê de resignação, de estoicismo. De que adiantaria querermos lutar contra os desígnios celestes, ou do Universo, ou de Deus? Se era para o mundo acabar, que diferença dois seres insignificantes como nós faríamos para mudar isto?
Mas havia pessoas que não aceitaram passivamente este fato. Entre elas, havia um outro grupo de amigos que, na virada da noite de 10 para 11 de agosto, reuniram-se para se salvar.
Não sei inspirados em qual ensinamento esotérico, em qual religião, em qual obra de misticismo, eles concluíram que desenhar um círculo no meio da sala e todos se amontoarem dentro dele bastaria para salvá-los do fim.
Imagino que tipos de pensamentos passaram pelas cabeças deles: será que eles acreditavam que o círculo de proteção os salvaria, mas que, fora dele, toda a raça humana se extinguiria? Qual é o sentido de sobreviver uma dúzia de pessoas enquanto todo o restante da civilização deixava de existir? Ou será que pensavam que o gesto deles serviria para salvar toda a Humanidade?
Um sobre o outro, eles vararam a madrugada, por vezes reclamando da posição incômoda, por vezes tentados a se levantarem, abandonar o círculo de proteção, e ir tomar água ou ir ao banheiro, mas sempre com a proibição:
— Não rompa o círculo! Você vai matar a todos nós!
O que os fazia imediatamente mudar de ideia e permanecer lá, com cãibras, com torcicolo, segurando o xixi, gemendo, à espera do fim do mundo.
Mas o mundo não acabou. O sol nasceu e atravessou a cortina da sala, fazendo com que aquele amontoado de gente despertasse.
Foi uma alegria! O mundo estava salvo! Nostradamus havia errado na profecia (ou ela apenas teria sido adiada)?
Ou quem sabe não tenha sido o ato altruísta deles que nos salvou do terrível fim?
O mundo acabará um dia, isto é um fato; assim como o nosso sistema solar, a galáxia, o próprio Universo se extinguirá um dia. Alguns mais alarmistas prevêem o fim para 2012, mas, quando o mundo novamente não acabar, vão prorrogar nosso tempo de existência por mais alguns anos.
Fico pensando no que eu faria se tivéssemos certeza de quando seria o fim; acho que faria exatamente a mesma coisa que já fiz um dia: eu me sentaria sob a sombra duma árvore e aguardaria, com o mesmo pensamento de antes - "Se o mundo acabar, tudo bem; se não acabar, tudo bem também".
segunda-feira, 18 de maio de 2009
O dia em que o mundo não acabou
por Henry Bugalho
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