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quarta-feira, 13 de maio de 2009

O alvo simbiótico

O meu nome é Zork e sou batedor-explorador sénior, sou um guarda avançado de primeira categoria especializado na observação de espécies com potencial. A minha função é de extrema utilidade pois a minha raça, com o pragmatismo que a caracteriza, há muito que desistiu de suportar sozinha a subsistência e confortos e caprichos.

Aprendemos que é bem mais simples e eficaz identificar outros com o potencial simbiótico adequado e transformá-los gradualmente em nossos servos. De início, a vítima, tecnologicamente menos evoluída, não compreende o jogo latente que está a decorrer. Depois... bem, depois é já tarde demais. Como uma mosca espantada e aturdida e enredada na teia, quando percebe o que se passa, já nada pode fazer, não se liberta. Na verdade se chamarmos as coisas pelos nomes próprios, não existirá aqui qualquer simbiose ou relação simbiótica. Existe sim, parasitismo. E isso mesmo, digo-o sem qualquer pudor: somos parasitas!

Naquela tarde preparava-me para desempenhar as tarefas para as quais me tinham treinado. Ia ser fácil pois o ponto de observação no piso de cima do edifício ficava mesmo junto ao enorme balaústre e era muito bom. A visão, soberba, perfeita, abrangia praticamente cento e oitenta graus. Além disso era um recanto acolhedor e agradável de modo que certamente permitiria iniciar o relatório com todo o conforto.

Observei-os e vi como tratavam os "pequenos" com amor e carinho, nunca os deixando sós e desprotegidos em momento algum. Vi como falavam a toda a hora, constantemente, frequentemente, com eles. E quanto falavam… oh Deuses, que entusiasmo, quase parecia um vício! E forneciam-lhes com solicitude, sem reclamar, toda a energia necessária. E na presença da mais pequena sujidade, logo acorriam e limpavam com extremo cuidado.

Vi como são preocupados. A certa altura um "pequeno" caiu e o seu servo levou prontamente as mãos à cabeça proferindo expressões para as quais não possuímos ainda tradução:

– Ai meu Deus! E agora? – disse ele.

Depois, curvou-se e tomou rapidamente o "paciente" em mãos inspeccionando-o com cuidado, para verificar se estaria de boa saúde ou necessitaria de algum tratamento. Noutra das observações, constatei que além de preocupados também sabem ser extremamente leais e obedientes. O "pequeno" estava aos gritos com sua voz fina irritada. E o gigante só dizia: «Sim senhor, querida; desculpa querida; eu sei amor». Tudo isto é verídico, eu próprio o vi com o meu sistema de sensores. E tudo isto me bastou.

Os "pequenos" eram sem dúvida os seres mais afortunados de todo o universo. Mas não continuariam assim por muito tempo. Tudo o que necessitávamos era colocar em prática o plano: substitui-los gradualmente por elementos da nossa espécie no domínio dos servos gigantes prestáveis e solícitos. Tendo chegado a este ponto, a minha atenção, objectivos e prioridades mudaram e obtive dados mais detalhados. E foi então que surgiu um contratempo inesperado e todas as dificuldades a ele inerentes. Afinal não iria ser assim tão fácil. Porque os "pequenos" eram compostos por várias subespécies, todas elas incompatíveis entre si.

Resignado, coligi os nomes delas e coloquei-os no meu relatório:

NOKIA

SIEMENS

MOTOROLA

SONY-ERICSSON

SAMSUNG

...

Agora, a minha próxima tarefa vai ser analisar em detalhe cada uma dessas vertentes raciais a fim de explorarmos com eficácia todas as suas vulnerabilidades.

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