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domingo, 17 de maio de 2009

François Rabelais e o mundo às avessas

Henry Alfred Bugalho


Poucos autores foram tão geniais, renovadores e mal compreendidos quanto François Rabelais. Nascido numa quinta próxima a Chinon, em 1494, filho dum advogado local, Rabelais ingressou cedo na vida monástica. No entanto, por causa de suas ideias e obras, ele bateu de frente com a Igreja, com os teólogos e os eruditos da Sorbonne.

Atuou como médico e, mais do que isto, redigiu e publicou livros na área de Medicina, mas foi por causa do conjunto dos livros de "Gargântua e Pantagruel" que Rabelais se imortalizou e revolucionou a Literatura.

Segundo o mais importante trabalho sobre a obra de Rabelais, escrito por Mikhail Bakhtin, a grande novidade de “Gargântua e Pantagruel” não residia nos temas abordados — como o grotesco, a escatologia, a carnavalização do mundo ou o mundo às avessas —, mas sim na renovação feita por ele da língua francesa, ao introduzir termos e expressões derivados diretamente do grego e do latim, e ao utilizar uma ortografia própria, que serviriam, em parte, como inspiração para mudanças posteriores do idioma. Bakhtin defende que o sucesso imediato da obra-prima de Rabelais se deveu ao caráter popular dele, já que Rabelais conseguiu trazer para a Literatura a linguagem e a vida da praça pública e do mercado, rompendo, em parte, com a natureza elitista da escritura. O sucesso de “Gargântua e Pantagruel” seria o reflexo do povo retratado a si mesmo, ao mesmo tempo em que isto seria a fonte da controvérsia entre Rabelais e os eruditos de sua época.

Os dois primeiros livros da obra, Pantagruel (publicado em 1532) e Gargântua (publicado em 1534), surgiram sob o pseudônimo de Alcofibras Nasier, um anagrama de François Rabelais, e foram imediatamente condenados pela Sorbonne e pela Igreja Católica. Nestes dois volumes, são apresentados o nascimento e a criação dos gigantes Gargântua, o pai, e Pantagruel, o filho, duma maneira bastante cômica, escatológica e, às vezes, herética. O personagem Gargântua já existia anteriormente, numa obra anônima e bastante popular, e Rabelais bebeu desta fonte para elaborar sua série, sofisticando bastante a narrativa original e introduzindo novos elementos.

No terceiro livro da série, inicia-se a narração do dilema de Panurge, um dos companheiros de bebedeira de Pantagruel, sobre se ele deveria se casar ou não. Para obter uma resposta, eles decidem empreender uma viagem em busca da “Botelha Sagrada”. Esta viagem prossegue pelos quarto e quinto livros, nos quais Pantagruel, Panurge e Frei Jean, um ex-monge, se deparam com uma série de aventuras por mares desconhecidos.

Nestes cinco livros, Rabelais desenvolve toda uma concepção do mundo, unindo aspectos sacros, eruditos, elevados ao baixo, mundano, vulgar, grotesco.

François Rabelais morreu em Paris em 1553. Um dos mais controversos autores da História se despediu da vida terrena com a célebre e disputada frase: "Parto para ver o Grande Talvez... Fechem as cortinas, a farsa acabou".

Leia um trecho de "Gargântua e Pantagruel"

Fontes:
BAKHTIN, Mikhail, Cultura Popular na Idade Média e Renascimento. São Paulo: HUCITEC, 1987.

The concise dictionary of foreign quotations
http://books.google.com/books?id=3KLz2QEdQaoC

Wikipédia
http://en.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7ois_Rabelais

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