Léo Borges
Maria das Dores relutava em viver tantos anos com o mesmo nome. Cada revés na vida era merecedor de uma nova graça para apagar as cicatrizes.
Quando terminasse de receber os castigos de seus pais, seria Cândida; após descobrir que fora traída pelo amor de sua vida, seria Ângela; depois de ser demitida do emprego de secretária, seria Virgínia.
E já programara que seu último nome refletiria a cor clara das águas, o azul de um céu límpido e pacífico, redenção aos 80 anos de uma mulher sofrida. Mas seu filho Antenor, que prometera que quando virasse José a ajudaria, voltou atrás ainda Jônatas.
Tampouco a auxiliou o neto, Luiz, outrora Caio. O ocaso chegou sem maiores alardes e, então, a solidão companheira deixou que a anciã pulasse do oitavo andar, impedindo, assim, o nascimento de Celeste.
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