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terça-feira, 17 de março de 2009

Hesíodo e a vida do homem comum

Henry Alfred Bugalho

O poeta grego Homero dispensa apresentações — autor de obras clássicas como “Ilíada” e “Odisséia” —, é considerado um dos pais da poesia épica e deu a forma definitiva de histórias mitológicas como a da Guerra de Tróia, da rivalidade entre o rei Agamenon e Aquiles, ou da viagem cheia de peripécias do herói Odisseu. Teóricos debatem a existência de tal personagem, defendendo que, na verdade, os poemas atribuídos a Homero nada mais passam do que uma compilação de tradições orais do povo grego primitivo, utilizadas para fins pedagógicos.

Werner Jaeger, no livro “Paidéia”, apresenta esta função educacional de Homero de modo muito explícito: a nobreza (areté) dos heróis homéricos deveria servir de referencial de nobreza para a aristocracia grega.

A cosmovisão de Homero representaria, portanto, a perspectiva dos altos estratos da sociedade helênica, um ideal de governo e comportamento nobres.

É neste ponto que Hesíodo surge como a contraparte.
Hesíodo é considerado, por muitos, como o segundo mais importante poeta da Antiguidade Clássica, às vezes, até equiparado a Homero em grandeza. No entanto, o mundo de Hesíodo é bastante diferente do de Homero.

Enquanto que em Homero nós assistimos às lutas e anseios de reis, rainhas e heróis, em Hesíodo nós acompanhamos o labor do homem comum, do agricultor, do artesão, do escravo e da mulher.
As duas grandes obras de Hesíodo são a “Teogonia” e “Os Trabalhos e os Dias”. Na primeira delas, é narrado o nascimento dos deuses e a criação do mundo, de acordo com a crença popular e com a religião corrente à época, na segunda, Hesíodo prescreve normas de condutas e preceitos para o bom viver, quais as melhores épocas para se plantar, para se viajar, e como sobreviver à dura vida campesina. Ambas as obras estão intimamente relacionadas, pois, enquanto que o homem de Homero se põe, às vezes, em pé de igualdade com as divindades — são filhos e filhas de deuses, semideuses, e desafiam os deuses olímpicos, como o caso de Diomedes que ataca Afrodite durante a batalha — o homem de Hesíodo se encolhe diante da vontade dos deuses, e é forçado a obedecê-los, temê-los e reverenciá-los.

Muitas das fábulas de Hesíodo, como a da criação da mulher, representam as opiniões e crenças daquele tempo, retratando uma sociedade patriarcal, agrária, profundamente religiosa (duma religiosidade cotidiana, na qual os deuses estão presentes o tempo todo na vida das pessoas, inclusive favorecendo-as ou prejudicando-as de acordo com seus caprichos) e pragmática.
Hesíodo traz uma outra perspectiva sobre a sociedade grega primitiva, mostrando-nos o homem comum, sem o resplendor dos grandes feitos, mas com a dignidade do trabalho cotidiano.

Ler um trecho da Teogonia

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