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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O sacana - giselle Sato

- Escrever sobre sexo é difícil.

- Concordo.

- O trivial fica parecendo receita de bolo. E se dou uma valorizada, dizem que está mirabolante. Surreal.

- Tudo bem, pior é escutar que são ''pornô -chic''.

- E isto existe ou foi inventado?

- Sei lá, ando cansado de martelar as teclas e não escrever nada diferente.

- Que eu saiba: mão ali, boca aqui, língua, gemido, gozos desenfreados... É tudo igual, só mudam os adereços.

- Não seja debochado. O pior são os nomes. Eu fico pensando; Algumas vezes, um nome mal colocado mata a credibilidade.

- Esta é boa! Um nome de quê?

- Do órgão. Oras! Que mania de colocar apelidos.

Confesso. Até esta frase, vinha conseguindo controlar o riso. A questão eram os nomes dos ditos cujos. Agenor é escritor das antigas e gosta de tudo sugerido.
Meus amigos são engraçadíssimos, mas este é especial: Escreve contos eróticos, mas segue regras severas. Vale a pena escutar a explicação para suas composições:

- Tem que colocar moral na coisa, senão deslancha para o pornô baixo-nível. Nada entre familiares, menores, estupros, violência e algumas taras nojentas. Meus contos primam pelo bom gosto.

- Tudo bem . Mas criatura, e se a revista pede um conto ''sado'' leve?

- Não faço. Eu não estou aqui para incitar maluco.

- Mas voltando para os nomes, o que está te aborrecendo?

Ele ficou meio desconfiado. Achou que era sacanagem e amarrou a cara.
Acertou em cheio! Sou um descarado nato. Nasci assim: Safado, sacana e pinguço. Aquela conversa e o chope geladíssimo, estavam o fino!. Sem contar, que tínhamos acabado de participar de uma reunião chatíssima:

- Vamos fazer uma parceria. Temos estilos diferentes, precisamos encontrar uma forma de fazer o trabalho.

- Claro, o que sugere?

- O que acha de: xana, xavasca, rachinha, gorduchinha... - Onde anda buscando estas inspirações? Nem a minha avó fala assim!

- A nomenclatura correta soa pedante: '' ele introduziu o pênis rijo na vagina úmida....”

- Mais dois na pressão!!! Criatura, escreva “buceta”. Não é o que todo mundo diz por aí? - É vulgar, não assino conto com este termo.

- Agenor, meu velho. O que escolher está bom. Abro mão das minhas bucetinhas.

- E ainda tem o masculino.

- Sinceramente: “aríete em riste”, monumento ereto, membro túrgido...

- Vai começar a implicar? Era um conto para uma revista masculina. Pagou muito bem.

- Então qual o motivo do drama? Aliás, porque esta discussão começou? Esqueci...

- É a bebida, rapaz. Acabamos de sair da editora. Querem um erótico perfumado, sem as suas baixarias e sem minhas firulas. No jeito, entendeu?

- Não sei, não. Vou beber mais cinco, depois resolvo.

- Olha só, batizaram os ''chopinhos'': tem mulata, morena, lourinha... Pegou a idéia?

- Quer chamar as femininas de mulatinha, moreninha e por aí vai...

Olhei para a cara do Agenor e fiquei imaginando: “O homem pelado e de meias pretas, a barriguinha de cerveja bem redondinha e a carinha de pidão. A mulher, uma puta daquelas! Estilo cais do porto. Agenor, todo tímido pedindo: “- Vai filha, abre a lourinha pro papai.''... Não sei se ele intuiu ou teve algum surto inspirador.

Quando consegui parar de rir, estava sozinho na mesa e o malandro nem rachou a conta. A única coisa que tenho certeza: Perdi o contrato!

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