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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Sinfonia

Deixou a água do chuveiro percorrer todo o seu corpo, massageando a pele bronzeada. Em seguida, munida de um sabonete barato, lavou-se com esmero, dando atenção à vulva intumescida que em minutos seria ocupada por aquilo que seu amado desejava. Sorriu marotamente, brincado com os pentelhos duros, espessos, que ele a proibira de depilar. “Se um dia você aparecer aqui com esta buceta raspada, tu morre”, ameaçou-a inúmeras vezes. Ela até pensou em fazer uma depilação artística para agradá-lo, esculpindo na penugem negra um coraçãozinho ou mesmo uma fruta que seu amado apreciasse, mas, ordens eram ordens e não convinha a ela discutir.
Saiu do banho e dirigiu-se para o quarto se enxugando. Mirou-se no espelho, contemplando aquilo que a natureza fora com ela generosa. Coxas roliças, barriguinha sarada em horas de malhação, peitinhos durinhos, apessegados, e a bunda incomensurável, de primeira grandeza, bunda brasileira, redonda, rotunda, cuja liliputiana marca do biquíni desenhava uma seta invadindo o rego, como que sinalizando o ânus que seu macho tanto apreciava.
Atirou-se na cama, nua, o corpo úmido marcando os lençóis, desenhando em sua superfície um bem pouco santo sudário. Na cabeceira, um tubo do seu lubrificante predileto. Deitada de costas, pernas abertas, besuntou a cona enquanto pensava se deveria dar prosseguimento ao que seu homem tanto queria. Amava-o sem sombra de dúvidas, contudo, aquilo lhe parecia uma insanidade. Mas era o desejo dele e ela, escrava da paixão, não tinha o direito de lhe negar.
Um misto de excitação e receio invadiu seu espírito enquanto ela introduzia, centímetro, por centímetro, o celular encomendado pelo seu homem dentro da vagina, protegido por um preservativo. Marcelo Escorpião, traficante mais perigoso da cidade, 400 anos de cana, teria o que tanto ansiava naquela visita íntima semanal. Quando o celular sumiu por inteiro dentro do seu esconderijo, ela suspirou aliviada e foi se vestir.
Só não contava em se tornar notícia em todos os meios de comunicação do país. Até no estrangeiro ouvi-se falar dela, pois se esquecera de desligar o aparelho. Os guardas do presídio, atônitos, deram voz de prisão àquela mulher vestida como se estivesse indo ao um templo evangélico quando, durante a revista, ouviram sua vulva tocar a nona sinfonia de Beethoven.

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