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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O segredo

Joaquim Bispo

Catarina não se calava, enquanto não matasse a curiosidade:
– Só te perguntei se tinhas alguma cunha, porque é sabido que o Vasconcelos apenas admite louras altas para a secção dele. Ora tu, morena e redondinha, como é que conseguiste entrar? Tu não me leves a mal. É que parece que havia louras a concorrer …
Marília, já cansada de dar respostas evasivas à amiga, decidiu que era hora de lhe revelar o segredo. Abriu a malinha de mão e mostrou o conteúdo, onde sobressaía um objecto ovóide cor-de-rosa de cinco por três centímetros.
– Este ovinho é a resposta – concluiu, com um sorriso seguro.
– Não compreendo. Um ovo de plástico? O que é que isso tem que ver?
– Este ovinho é um vibrador de uso interno, sem fios. É comandado por este controlo remoto de sete velocidades. Uso-o para as faltas do Pedro, e também por desfastio no emprego. Devias comprar um. É silencioso, não se dá por ele, mas mexe-se dentro de nós, vibrando ou pulsando, conforme a velocidade. Quando vou a uma entrevista com um homem, ponho-o dentro de mim, como um tampão, e, na altura, ligo-o na velocidade dois. Há muito tempo que descobri que os homens não lhe resistem. Um humedecer de lábios, um mexer no cabelo, podem ser interpretados como manobras de manipulação, por um homem experiente; a excitação branda que este ovinho provoca no meu corpo não tem defesa. Por detrás do brilho genuíno no meu olhar, o homem, de alguma maneira, capta a onda de prazer sensual que o meu cérebro activado emite. É fatal.

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