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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Surpresa

Depois daquele dia, marcamos de nos encontrarmos, na semana seguinte, na sorveteria “Bola de Neve”, a melhor da cidade.
Fazia um tempo fresco e ensolarado, eu já aguardava no local. Cheguei dez minutos mais cedo, como de costume. Nesse tempo comecei a observar ao meu redor. Uns onze metros à frente, uma família, pai, mãe, filho e filha. Crianças pequenas. O menino, que era dois anos mais velho que a menina, estava com a cara inteirinha lambuzada de sorvete e mergulhava seu boneco nele. A mãe gritando. A menina chorava e dizia querer pastel, não sorvete. E a mãe gritando. Enquanto o pai tomava o seu sorvete sossegadamente e olhava o movimento na rua. E a mãe gritando. No lado interno, no canto, tinha uma mulher gorda que estava na sua terceira tigela. Tomava desesperadamente e completamente lambuzada, mãos, rosto, barriga e até a ponta do nariz. Era cômico. Na mesa encostada à parede, duas amigas conversavam sobre os garotos da escola e se deliciavam com enormes copos de milk-shake.
Fernando apareceu e me assustei. Nem pude ver a cara do homem quando tomou o sorvete com sal que um garotinho tinha posto.
– Olá! Achei que não viesse mais.
Ele sorriu puramente e me beijou a bochecha. Tive a impressão de já ter visto esse sorriso tão doce.
Logo pedimos sorvete. Eu, Montanha Negra, ele, Céu Estrelado.
– Nos dias de hoje é difícil conhecer pessoas como nos conhecemos. Num bar no centro da cidade não é o melhor lugar. Seria normal numa festa, na faculdade, com os amigos...
– É o mundo moderno... Mas você forçou.
Dei de ombros.
– Você não teria me visto.
Ele pensou e enfim, disse:
– Talvez... Sempre morou aqui?
– Nasci aqui. Vivi até os seis anos. Fiz alguns amigos nesse tempo, mas acabei perdendo contato. Depois minha família se mudou para ficar mais unida. E voltei faz um mês e meio. Retornei às origens. A cidade mudou tanto todos estes anos.
– Que ótimo... – disse, diminuindo a intensidade, com cara de assustado ou que não entendeu nada – Eu era um de seus amigos. Lembro-me do seu rosto, seus olhos... Seus cabelos...
– Não pode ser! – disse perplexa– Bem achei já ter visto seu sorriso doce. Nunca me esqueci.
– Quanta felicidade te reencontrar! E só agora nos demos conta disso!
Os sorvetes tinham chegado. E trocamos colheradas como velhos amigos.
– Como foi a sua vida lá?
– Minha família toda é de lá. Senti muita saudade daqui e aos poucos a família e os novos amigos foram amenizando essa carencia. Mas nunca me esqueci deste lugar. Tanto que deu certo de voltar. Agora faço jornalismo.
– Naturalmente. Sempre me lembro daquela época com nostalgia. Nem me lembro como você era, seu jeito, seu temperamento... Mas jornalismo combina com você.
Que Máximo!
Acabamos por estender o encontro até o jantar. Jovem estudante que sabe cozinhar, e bem!
Fechamos a porta.



Continua! Não perca no próximo mês!

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