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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pequenos desencontros

Volmar Camargo Junior


Platão? Que Platão?

 

— Ouvi dizer que todas as coisas do mundo, um dia, existiram no mundo das idéias. Então, como podemos saber se na verdade, o mundo das idéias não é aqui? Às vezes, eu penso que sou apenas um personagem na imaginação de um escritor desocupado e...

 

[Estas foram as primeiras e as últimas palavras de um personagem que não entrou em nenhuma das minhas histórias. Não tenho paciência para esses atrevimentos.]

 

 

Primeiro amor

 

Orlando reconheceu na rua a menina por quem havia se apaixonado nos tempos do primário, e correu para dar-lhe um abraço. Thereza, abordada por um desconhecido com tamanha intimidade, achou que seria descortês dizer-lhe que foi um engano, mas evitou o contato físico. Soldado Juarez, à paisana, viu na cena um princípio de assalto, e com dois golpes fulminantes nocauteou e imobilizou o suspeito. Um cinegrafista amador filmou com a câmera do telefone celular a ação do policial responsável pela captura de Orlando Silva da Silva, estelionatário, que estava foragido havia meses. Nem depois de a foto do dito cujo sair nas manchetes dos noticiários Thereza associou aquela cara à do gorducho que lhe deu um beijo babado na quarta-série. Naquela época, ela só tinha olhos para o Roberto Carlos.

 

 

Voyeurismo

 

Todos os dias, o menino espiava pelo buraco no muro do vizinho, e do outro lado via um gramado e, à distância, uma cabana na árvore. Tocado pelo remorso, o pai esmerou-se para fazer um bela plataforma de madeira, sustentada pelos galhos da mangueira que havia em seu próprio pátio. Feliz da vida, o menino correu até seu baú de brinquedos, tirando de lá o binóculo que ganhara no Natal. Finalmente teria uma vista privilegiada da tão amada cabaninha do quintal ao lado.

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