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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A alma paulistana de Paulo Bomfim


Paulo Bomfim nasceu em São Paulo no dia 30 de setembro de 1926.Iniciou suas atividades jornalísticas em 1945, no Correio Paulistano, indo a seguir para o Diário de São Paulo. Foi diretor de Relações Públicas da "Fundação Cásper Líbero". Na TV, produziu "Universidade na TV" no Canal 2, "Crônica da Cidade" e "Mappin Movietone" no canal 4. Apresentou no Rádio Gazeta, "Hora do Livro" e "Gazeta é Notícia".
Seu livro de estréia foi "Antônio Triste", publicado em 1947 com prefácio de Guilherme de Almeida e ilustrações de Tarsila do Amaral, premiado em 1948 pela Academia Brasileira de Letras com o "Prêmio Olavo Bilac".

Outras obras: "Transfiguração" (1951), "Relógio de Sol" (1952), "Armorial" (1954), "Sonetos"(1959), "Colecionador de Minutos", "Ramo de Rumos" (1961), "Sonetos da Vida e da Morte" (1963). "Tempo Reverso" (1964), "Canções" (1966), "Calendário" (1963), "Praia de Sonetos" (1981),"Sonetos do Caminho" (1983), "Súdito da Noite" (1992). Suas obras foram traduzidas para o alemão, o francês, o inglês, o italiano e o castelhano. Conquistou o "Troféu Juca Pato" em 1981. É hoje o decano da Academia Paulista de Letras.



Antônio Triste


Esguio como um poste da Avenida

Cheio de fios e de pensamentos,

Antônio era triste como as árvores

Despidas pelo inverno,

Alegre, às vezes, como a passarada

Nos fins da madrugada.


Sozinho, como os bancos de uma praça

Em noites de neblina,

Antônio, protegido de retalhos

Com seu cigarro aceso,

Lembrava-me um balão que, multicor,

Se vê no firmamento:

Não se sabe donde veio

Não se sabe aonde vai.


Não era velho

Nem era moço,

Não tinha idade

Antônio Triste.


Quando as luzes cansadas se apagavam

E as trevas devoravam a cidade,

Antônio Triste chorava e cantava:

À luz de um cigarro, bailava e rodava

Pelas ruas desertas e molhadas.


Mas, certa noite um varredor de rua,

Viu muito lixo no chão:

Tanto trapo amontoado,

Quase um balão de São João!

Um resto de cigarro num canto da boca,

A mecha se apagara.

Antônio, o triste balão de retalhos,

Findara!


Soneto I


Venho de longe, trago o pensamento

Banhado em velhos sais e maresias;

Arrasto velas rotas pelo vento

E mastros carregados de agonia.


Provenho desses mares esquecidos

Nos roteiros de há muito abandonados

E trago na retina diluídos

Os misteriosos portos não tocados.


Retenho dentro da alma, preso à quilha

Todo um mar de sargaços e de vozes,

E ainda procuro no horizonte a ilha


Onde sonham morrer os albatrozes...

Venho de longe a contornar a esmo,

O cabo das tormentas de mim mesmo.



A Água


Despe, na solidão da tarde,

Tua roupagem manchada de quotidiano,

E deixa que a chuva molhe teus cabelos

E vista teu corpo de escamas de prata.

Pousa, em teus ombros, o manto dos lagos

E colhe no cântaro de tuas mãos

A música dos dias que adormeceram

No fundo de teu ser.

Mármores líquidos moldarão teu corpo.

Nuvem,

Penetrarás a carne da manhã.


fonte do resumo biográfico: http://www.academiapaulistadeletras.org.br/cur_35.htm

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1 comentários:

Gostaria de indicar o site do Jornalista, Professor Universitário e Escritos João Alves das Neves http://joaoalvesdasneves.blogspot.com/2009/07/letras-brasileiras-paulo-bomfim.htmlque e seu texto sobre o Poeta Paulo Bomfim

Fabíola Nese

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