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terça-feira, 17 de junho de 2008

Hu Shi, o intelectual da reforma literária chinesa

Hu Shi (17 de dezembro de 1891 - 24 de fevereiro de 1962) foi um filósofo chinês e ensaísta. Nascido em Xangai, ele foi enviado aos EUA em 1910 para estudar agricultura na Cornell University. Em 1912, ele mudou linha de pesquisa para Filosofia e Literatura. Depois, estudou Filosofia na Columbia University. Lá, foi profundamente influenciado por seu professor, John Dewey, e se tornou tradutor das obras de Dewey e um defensor ferrenho do pragmatismo. Retornou para lecionar na Universidade de Pequim. Durante sua permanência, recebeu apoio de Chen Duxiu, editor do influente jornal "Nova Juventude", e atraiu atenção e influência. Hu se tornou um dos principais e mais influentes intelectuais durante o Movimento Quatro de Maio e, depois, no Movimento Nova Cultura.

Sua mais importante contribuição foi a divulgação do Chinês Vernáculo na literatura em substituição ao Chinês Clássico, o que tornou a leitura mais acessível às pessoas comuns.

Hu foi embaixador da República Popular da China nos EUA entre 1938 e 1941, chanceler da Universidade de Pequim entre 1946 e 1948 e, posteriormente, presidente da Academia Sinica em Taiwan, onde ele permanceu até sua morta, por ataque cardíaco, aos 71 anos de idade. Ele foi o diretor-executivo do Jornal China Livre, que foi fechado por causa da crítica a Chian Kai-shek.

Obra
Diferente de outras figuras da Era dos Generais na República da China, Hu era defensor de apenas uma corrente de pensamento: o pragmatismo. Muitos de seus textos utilizaram destas idéias para propor mudanças na China.
Hu era conhecido como o primeiro porta-voz da era da revolução literária, um movimento que visava substituir o erudito Chinês Clássico na escrita pela língua vernácula falada, além de cultivar e estimular novas formas de literatura. Num artigo publicado originalmente em "Nova Juventude" de janeiro de 1917, entitulado "Uma Discussão Preliminar de Reforma Literária", Hu enfatizou originalmente oito diretrizes que todos escritores chineses deveriam ter em mente ao escrever:


1. Escreva com substância. Hu queria dizer que literatura deveria conter sentimentos e pensamentos humanos reais. A intenção era contrastar à poesia recente com rimas e métrica, vista por Hu como sendo vazia.
2. Não imite os clássicos. Literatura não deveria conter estilos ultrapassados, mas sim um estilo moderno dos tempos atuais.
3. Respeite a gramática. Hu não dissertou muito sobre este ponto, apenas afirmando que as formas recentes de poesia negligenciavam a gramática.
4. Rejeite a melancolia. Jovens autores recentes comumente escolhem pseudônimos e escrevem sobre temas como a morte. Hu rejeita este modo de pensar como sendo improdutivo na tentativa de resolver problemas modernos.
5. Elimine velhos clichês. A língua chinesa sempre possuiu vários ditados e sentenças com quatro caracteres utilizados para descrever eventos. Hu implorou aos autores para usar suas próprias palavras em descrições e desprezou os que não faziam isto.
6. Não fazer alusões. Hu se referia à prática de comparar eventos presentes a históricos quando não havia nenhuma analogia significativa.
7. Não utilizar dísticos e paralelismos. Apesar de estas formas terem sido o objetivo de escritores antigos, Hu acreditava que os autores modernos deveriam primeiro aprender o básico da substância e qualidade antes de retornar àqueles assuntos de sutileza e delicadeza.
8. Não evitar expressões populares e formas populares de caracteres. Esta regra, talvez a mais conhecida, relaciona-se diretamente com a crença de Hu de que a literatura moderna deveria ser escrita em vernacular, ao invés do Chinês Clássico. Ele acreditava que esta prática tinha precedentes históricos e que conduzia a uma maior compreensão de textos importantes.

Em abril de 1918, Hu publicou um segundo artigo em "Nova Juventude", este intitulado "Revolução Literária Construtiva - Uma Literatura da Fala Nacional". Nele, ele simplifica os oito itens originais em apenas quatro:

1. Fale apenas quando você tem algo para dizer. Análogo ao primeiro item acima.
2. Fale o que você quer dizer e o diga do modo que você quer dizer. Une do segundo ao sexto itens acima.
3. Fale o que é próprio de si mesmo, e não de outra pessoa. Uma reescrita do item sete.
4. Fale na língua da época em que você vive. Refere-se novamente à substituição do Chinês Clássico pela língua vernácula.

fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Hu_Shi

***

Não se esqueça

Hu Shi
tradução: Henry Alfred Bugalho
Filho,
Por vinte anos ensinei-o a amar este país,
Mas só Deus sabe como!

Não se esqueça:
Este é o nosso país de soldados,
Que fez sua tia se suicidar em desgraça,
E fez o mesmo com Ah Shing,
E com sua esposa,
E que fuzilou Gao Sheng!

Não se esqueça:
Quem decepou seu dedo,
Quem espancou seu pai até a invalidez!
Quem queimou esta vila?
Merda! O fogo está chegando!
Vai, para o seu próprio bem! Não morra comigo!
Espere!

Não se esqueça:
O único desejo desse pai moribundo é o país invadido
Pelos cossacos,
Ou pelos prussianos,
Por qualquer um!
Há vida pior do que — esta?!

***

Sonho e poesia
Hu Shi
tradução: Henry Alfred Bugalho

É tudo experiência comum,
Tudo imagens comuns.
Ao acaso elas surgem num sonho,
Engendrando infinitos novos padrões.

É tudo sentimentos comuns,
Tudo palavras comuns.
Ao acaso elas encontram um poeta,
Engendrando infinitos novos versos.

Uma vez intoxicado, descobre-se a força do vinho,
Uma vez enamorado, descobre-se o poder do amor:
Tu não podes escrever meus poemas
Assim como não posso sonhar teus sonhos.

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