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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Rapunzel


Versão: Jacob e Wilhelm Grimm
Tradução: Henry Alfred Bugalho

Era uma vez um homem e uma mulher que há muito tempo, em vão, queriam ter um filho. Por fim, a mulher teve esperança de que Deus lhes concedesse este desejo. No fundo da casa deles, havia uma pequena janela, de onde se podia ver um esplêndido jardim, repleto das mais lindas flores e ervas. Contudo, o jardim era cercado por um alto muro, e ninguém se atrevia a ir até lá porque ele pertencia a uma bruxa, que tinha grande poder e era temida por todo o mundo.
Um dia, a mulher estava diante desta janela, olhando para o jardim, quando ela avistou um canteiro no qual estavam plantados os mais belos rapôncios — conhecidos como rapunzéis na região —, e que pareciam tão frescos e verdes que ela os desejou, e tinha a maior vontade de comer alguns. O desejo aumentou dia após dia, e como ela sabia que ela não conseguiria obtê-los, ela se debilitou, e começar a parecer pálida e desanimada.
Então seu marido ficou preocupado e perguntou:
— O que a atormenta, querida esposa?
— Ah, ela respondeu, se eu não puder comer um pouco de rapôncio, que tem no jardim atrás de nossa casa, eu vou morrer.
O homem, que a amava, pensou que, ao invés de deixar sua esposa morrer, ele mesmo traria para ela o rapôncio, não importando o que isto lhe custasse. Ao cair da tarde, ele escalou o muro e saltou para o jardim da bruxa, apressadamente ele apanhou um punhado de rapôncios e o levou para sua esposa. Imediatamente ela fez uma salada com eles e os comeu com voracidade. E, para ela, o gosto era tão, mas tão bom, que no dia seguinte ela os desejava três vezes mais do que antes. Para ter sossego, o marido acabou indo mais uma vez ao jardim. Assim, na penumbra da noite, ele saltou para o outro lado de novo. Mas, após ter escalado o muro, ele levou um baita susto, pois viu a bruxa parada diante dele.
— Como ousa, ela disse, com olhar de raiva, descer ao meu jardim e roubar meu rapôncio como um ladrão? Você sofrerá por causa disto.
— Ah, ele respondeu, que a misericórdia substitua a Justiça, pois eu apenas decidi a agir deste modo por pura necessidade. Minha esposa viu seu rapôncio desde a janela e o desejou tanto que ela teria morrido se não os tivesse comido.
Então a raiva da bruxa foi aplacada, e ela disse a ele:
— Se este é o caso, como você diz, eu permitirei que você leve consigo quanto rapôncio quiser, mas eu imponho uma condição, você deverá entregar a mim a criança que sua esposa trará ao mundo. Ela será bem tratada, e eu tomarei conta dela como se fosse uma mãe.
Aterrorizado, o homem concordou com tudo, e quando a mulher deu a luz, a bruxa apareceu, subitamente, deu à criança do nome de Rapunzel e a levou consigo.
Rapunzel se tornou a mais bela criança debaixo do sol. Quando ela completou doze anos de idade, a bruxa a fechou numa torre, no meio da floresta, que não tinha escadas nem porta, mas quase no topo havia uma pequena janela. Quando a bruxa queria entrar, ela ficava embaixo da janela e gritava:
“Rapunzel, Rapunzel,
Jogue as suas tranças!”
Rapunzel tinha magníficos cabelos longos, belos como fios de ouro, e quando ela ouvia a voz da bruxa, ela soltava suas tranças, enrolava-as num gancho na janela e, então, o cabelo caía uma distância de doze metros, e a bruxa subia por ele.
Após um ano ou dois, o filho dum rei veio cavalgando pela floresta e passou perto da torre. Então ele ouviu uma canção, que era tão encantadora que ele parou para ouvi-la. Era Rapunzel que, em sua solidão, passava o tempo deixando sua doce voz ressoar. O filho do rei queria subir até ela. Procurou por uma porta para a torre, mas não encontrou nenhuma. Ele cavalgou para casa, mas a cantoria o havia tocado tão profundamente que, todos os dias, ele ia até a floresta para ouvi-la. Uma vez, quando ele estava parado atrás duma árvore, ele viu a bruxa chegar e a ouviu gritar:
“Rapunzel, Rapunzel
Jogue as suas traças!”
Então Rapunzel soltou as tranças e a bruxa subiu por elas.
— Se esta é a escada por onde se sobe, eu também tentarei a minha sorte, ele disse. No dia seguinte, quando começou a anoitecer, ele foi até a torre e gritou:
“Rapunzel, Rapunzel,
Jogue as suas tranças!”
Imediatamente ela jogou para baixo o cabelo e o filho do rei o escalou. A princípio, Rapunzel ficou terrivelmente assustada quando um homem, como nunca ela havia visto antes, apareceu. Mas o filho do rei começou a conversar com ela como se fosse um amigo, contou a ela que seu coração estava abalado, que não lhe deixava em paz, e que ele tinha de vê-la. Então Rapuzel perdeu o medo e, quando ele perguntou-lhe se ela queria se casar com ele, e ela viu que ele era jovem e bonito, ela pensou: “ele me amará mais do que a velha Dona Gothel me ama”. Ela disse sim, e eles se deram as mãos.
Ela disse:
— Eu quero ir embora com você, mas eu não sei como vou descer. Cada vez que você vier, traga um retalho de seda e eu tecerei uma escada com eles, e, quando ela estiver pronta, eu descerei e você me levará em seu cavalo.
Eles combinaram que, até então, ele viria se encontrar com ela todas as noites, pois a velha vinha durante o dia.
A bruxa não percebeu nada de errado, até que, certa vez, Rapunzel disse a ela:
— Diga-me, Dona Gothel, como é que tão mais difícil para você conseguir subir do que para o jovem filho do rei; ele sobe rapidinho.
— Ah! Sua criança malvada, gritou a bruxa. O que é que você me disse? Eu pensei que tinha separado você de todo o mundo e, mesmo assim, você me enganou.
Em sua fúria, ela apanhou as lindas tranças de Rapunzel, enrolou-as duas vezes ao redor de sua mão esquerda, com a mão direita apanhou uma tesoura e, chique-chaque, ela as cortou. As adoráveis tranças caíram no chão. E ela era tão inclemente que levou a pobre Rapunzel para um deserto, onde ela tinha de viver em grande pesar e penúria.
Contudo, no mesmo dia em que ela expulsou Rapunzel, a bruxa prendeu as tranças, que ela havia cortado, no gancho na janela e, quando o filho do rei veio e gritou:
“Rapunzel, Rapunzel,
Jogue as suas tranças.”
Ela jogou o cabelo. O filho do rei subiu, mas, ao invés de encontrar sua querida Rapunzel, ele encontrou a bruxa, que o fitou com maldoso e venenoso olhar.
— Ahá, ela gritou, zombeteira, você veio pegar sua querida, mas o belo pássaro não canta mais no ninho. O gato o pegou, e arranhará seus olhos também. Rapunzel está longe de seu alcance. Você nunca mais a verá.
O filho do rei foi consumido por uma dor e, em seu desespero, pulou da torre. Ele sobreviveu, mas espinhos sobre os quais ele caiu furaram seus olhos. Então ele vagou, às cegas, pela floresta, não comia nada senão raízes e frutinhas, e não fazia nada senão se lamentar e chorar pela perda da sua querida esposa.
Assim, ele perambulou, miserável, por alguns anos, mas, por fim, ele chegou ao deserto onde Rapunzel vivia, com os gêmeos aos quais ela havia dado a luz, em estado deplorável. Ele ouviu uma voz e ela parecia ser tão familiar que ele foi em direção a ela e, quando ele se aproximou, Rapunzel o reconheceu, abraçou-o e chorou. Duas de suas lágrimas molharam os olhos dele, que se abriram, e ele voltou a enxergar. Ele a conduziu ao seu reino, onde eles foram recebidos com alegria e viveram felizes por muito tempo, felizes e satisfeitos.

(Fonte: Grimm Märchen)

Biografia
Os Irmãos Grimm, Jacob e Wilhelm Grimm, eram estudiosos alemães que se tornaram conhecidos pela publicação da coleção de contos populares e contos de fadas e pela sua obra em lingüística, relacionando como os sons em palavras se alteram historicamente (A Lei dos Grimm). Eles estão entre os maiores narradores de novelas da Europa, difundindo fábulas como "A Branca de Neve, Rapunzel, Cinderela e João e Maria.

(Fonte: Wikipédia)

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