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quinta-feira, 17 de abril de 2008

Chapeuzinho Vermelho


Versão: Jacob e Wilhelm Grimm
Tradução: Henry Alfred Bugalho

Era uma vez uma doce menininha. Todo mundo que a via gostava dela, mas principalmente sua avó, que daria qualquer coisa à criança. Certa vez, deu a ela um chapeuzinho feito de veludo vermelho. Porque lhe havia servido tão bem, e porque não queria vestir nada mais, ela ficou conhecida como Chapeuzinho Vermelho.
Um dia, a mãe disse a ela:
— Venha cá, Chapeuzinho Vermelho. Aqui está um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho. Leve-os até sua avó. Ela está doente e fraca, e isto fará bem a ela. Saia antes que fique muito quente e, enquanto você estiver indo, caminhe tranqüilamente e em silêncio, e não corra para fora da trilha, ou você pode cair e quebrar a garrafa, então sua vovó não receberá nada. Quando você entrar no quarto dela, não se esqueça de dizer “bom dia”, e não fique xeretando em todos os cantos antes.
— Eu tomarei cuidado, Chapeuzinho Vermelho prometeu a sua mãe.
A vovó vivia na floresta, a meia hora da cidade. Assim que Chapeuzinho Vermelho entrou na floresta, um lobo a encontrou. Chapeuzinho Vermelho não sabia que criatura terrível ele era, por isso, não tinha medo dele.
— Bom dia, Chapeuzinho Vermelho, ele disse.
— Muito obrigada, senhor lobo.
— Aonde vai tão cedo, Chapeuzinho Vermelho?
— Pra casa da minha vovó.
— O que você traz aí no seu avental?
— Bolo e vinho. Nós o assamos ontem, assim a pobre vovó doente terá algo gostoso para fazê-la ficar mais forte.
— Onde sua vovó mora, Chapeuzinho Vermelho?
— Mais uns quinze minutos adiante na floresta. A casa dela fica sob três grandes carvalhos, logo abaixo estão as amendoeiras. Com certeza você já deve conhecer, respondeu Chapeuzinho Vermelho.
O lobo pensou consigo: “que criatura mais tenra. Que refeição apetitosa, será melhor devorá-la do que à velha. E devo agir com astúcia, assim eu apanho as duas”. Ele acompanhou Chapeuzinho Vermelho por um tempo, então disse:
— Veja, Chapeuzinho Vermelho, como estão bonitas as flores por aqui. Por que você não dá uma volta? Acho que você não está ouvindo quão doce é o canto dos passarinhos. Você caminha seriamente, como se estivesse indo para a escola, enquanto tudo aqui na floresta está alegre.
Chapeuzinho Vermelho ergueu os olhos e, quando viu os raios de sol bailando aqui e acolá por entre as árvores e as lindas flores crescendo por todo o lugar, ela pensou: “que tal eu levar para a vovó um buquê? Isto a agradaria também. Está tão cedo ainda, que eu conseguirei chegar lá em boa hora”. Assim ela saiu da trilha e correu para a floresta à procura por flores. Mas toda vez que colhia uma, ela imaginava ter visto uma ainda mais bonita ao longe, e corria atrás dela, e assim ela adentrava mais na floresta.
Enquanto isto, o lobo correu direto para a casa da vovó e bateu na porta.
— Quem está aí?
— Chapeuzinho Vermelho, respondeu o lobo — Trazendo bolo e vinho. Abra a porta.
— Erga o ferrolho, gritou a vovó, estou fraca demais para me levantar.
O lobo ergueu o ferrolho, a porta se abriu e, sem dizer uma só palavra, ele foi até a cama da vovó e a devorou. Ele pôs as roupas dela, vestiu-se com o capuz dela, deitou-se na cama e fechou as cortinas.
Mas Chapeuzinho Vermelho estava colhendo flores e, quando ela havia reunido tantas que mal conseguia carregá-las, ela se lembrou da vovó, e se pôs a caminho da casa dela.
Ela ficou surpresa ao encontrar a porta do casebre aberta e, quando entrou no quarto, ela teve tal estranho sentimento que disse para si mesma: meu Deus, que angústia eu sinto hoje, das outras vezes, eu gostava tanto de estar com a vovó.
Ela chamou:
— Bom dia, mas não recebeu resposta. Ela foi até a cama e abriu as cortinas. Ali estava sua vovó com o gorro cobrindo o rosto e com uma aparência muito estranha.
— Nossa, vovó, ela disse, que orelhas grandes você tem.
— Para ouvi-la melhor, foi a resposta.
— Nossa, vovó, que olhos grandes você tem, ela disse.
— Para vê-la melhor.
— Nossa, vovó, que mãos grandes você tem.
— Para abraçá-la melhor.
— Nossa, vovó, que boca terrível você tem.
— Para devorá-la melhor.
E mal o lobo disse isto, ele saltou para fora da cama e engoliu Chapeuzinho Vermelho.
Quando o lobo havia saciado seu apetite, ele se deitou de novo na cama, adormeceu e começou a roncar bem alto. O caçador estava passando pela casa e pensou consigo: “como a velha senhora está roncando. Vou conferir se ela precisa de algo”.
Então ele entrou no quarto e, ao se aproximar da cama, ele viu que o lobo estava deitado nela.
— Eu o encontro aqui, velhaco? — ele disse — Eu o procuro há muito tempo.
Bem quando estava prestes a atirar contra ele, veio-lhe à mente que talvez o lobo tivesse devorado a vovó e que ela ainda poderia ser salva, então ele não atirou, mas pegou uma tesoura e começou a cortar a barriga do lobo adormecido.
Ele havia dado duas tesouradas quando viu Chapeuzinho Vermelho aparecer, então ele deu mais duas tesouradas, e a menininha saltou para fora, gritando:
— Ai, como eu fiquei com medo. Estava escuro dentro do lobo.
E, depois, a vovó também saiu com vida, mas quase não conseguia respirar. Chapeuzinho Vermelho rapidamente apanhou grandes pedras, com as quais eles encheram o bucho do lobo e, quando ele acordou, quis fugir, mas as pedras eram tão pesadas que ele logo caiu e morreu.

Todos os três ficaram contentes. O caçador arrancou a pele do lobo e a levou para casa. A vovó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho Vermelho havia trazido e se fortaleceu, mas Chapeuzinho Vermelho pensou consigo: “enquanto eu viver, nunca deixarei a trilha para correr pela floresta, quando minha mãe me houver proibido”.

***

Conta-se também que, certa vez, quando Chapeuzinho Vermelho levava novamente bolos para a vovó, outro lobo falou com ela e tentou incitá-la a sair da trilha. No entanto, Chapeuzinho Vermelho se conteve e prosseguiu em seu caminho, e disse à vovó que ela tinha se encontrado com o lobo, e que ele tinha dito "bom dia" para ela, mas com tanta maldade nos olhos que, se eles não estivessem na estrada pública, ela tinha certeza de que ele a teria devorado.
— Bem, disse a vovó, fecharemos a porta, assim ele não entrará.
Logo depois, o lobo bateu à porta e gritou:
— Abra a porta, vovó, sou a Chapeuzinho Vermelho e trago alguns bolos para você.
Mas elas não falaram nada, nem abriram a porta, então o cabeça cinzenta circundou a casa duas, três vezes e, por fim, subiu no telhado, pretendia esperar até que Chapeuzinho vermelho fosse para casa à noite, então a seguiria e a devoraria na escuridão. Mas a vovó viu o que havia nos pensamentos dele. Na frente da casa, havia uma tina de pedra, então ela disse à menina:
— Pegue o balde, Chapeuzinho Vermelho. Eu fiz algumas lingüiças ontem, então carregue até a tina a água na qual eu as cozinhei.
Chapeuzinho Vermelho carregou até a grande tina estar quase cheia. O cheiro de lingüiça subiu até o lobo, ele farejou e olhou para baixo, e, por fim, esticou tanto o pescoço que não conseguiu mais manter o equilíbrio e começou a escorregar. Escorregou do telhado direto na tina, e se afogou. Chapeuzinho Vermelhou voltou feliz para casa e ninguém mais fez mal algum a ela.

(Fonte: Grimm Märchen)

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