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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Atrapalhadas

Atrapalhada, lado A
Dormiu mal, acordou atrasada. Vestiu qualquer coisa, tomou num gole o café requentado. Irritou-se com o marido: maldita mania de apagar cigarros no pires!
No elevador, a vizinha-perua, maquiada a essa hora como se fosse a uma festa black-tie! Quem ela pensa que é, afinal, Gisele Bündchen?
Na saída, escorregou diante do porteiro e da vizinha. Quis chorar.
Atabalhoada, não enxergou o moço com a pilha de papéis na mão. Espalhados pela calçada, os documentos dele se misturaram ao conteúdo caótico de sua bolsa de mulher. Na confusão, um breve encontro dos olhares. Corou. Desculparam-se. Sorriram.
Seguiu em frente, transformada na própria Gisele na passarela.


Atrapalhada, lado B
Finalmente ia conferir se o tal Papai Noel existia mesmo. Se estivesse lá o trenzinho elétrico tão ansiosamente esperado, era prova de que sim, e pronto! Ninguém o convenceria do contrário!
O coração disparou. Sob a árvore um pacote grande, papel dourado, laço vermelho imenso. Ele veio, pensou, ele existe e eu sou feliz!
Toda a manhã o pai passou montando trilhos. Postos no lugar locomotiva e vagões, chegaram os primos. Uma revolução aqueles primos! A prima menor, atrapalhada, entrou correndo, sem olhar por onde andava.
Pisou no trilho.
Emudecido e pálido, sentiu a dor da infância terminada.

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