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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Borboleta

Hoje, finalmente arrumei a casa. Pela primeira vez depois que você se foi, fiz a faxina que prometi a mim mesma.

Minha vontade foi rasgar os livros que lemos. Quebrar ao meio os cd´s com as músicas que embalaram nossas noites de amor. Amassar as contas velhas, pagas em conjunto.

Quis destruir o passado como se assim pudesse exorcizar a sua presença.

Mas preferi não.

Ao contrário, guardei tudo. Arrumei os livros na ordem que decidimos juntos. Organizei os cd’s por ordem de preferência das músicas. Até as contas velhas eu arquivei com todo o cuidado...

No fim, peguei uma folha em branco.

Nela, escrevi todo o amor, toda a raiva, toda a tristeza, todo o rancor, toda a alegria. Todos os sentimentos que alimentei por você.

Dobrei o papel em cuidadosos pedacinhos (lembra do curso de origami que fizemos juntos?). Transformei tudo aquilo em uma borboleta de papel branco.

Soprei-a da janela do 15º. andar, nesse dia chuvoso, como tantos em São Paulo.

Ela começou a cair, devagar. Como se meus sentimentos tivessem dado vida à borboleta! Ou teria sido o meu sopro?

Sei que vi o pequeno ser de papel adejar, batendo as brancas asas contra o fundo cinza.

E hoje, finalmente, nossa casa voltou a ser só minha.
Seu fantasma foi exorcizado nas asas frágeis de uma borboleta de papel branco

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