Estou trancada num barraco imundo, amarrada por fios e cordas, deitada no chão de terra, não me sinto mais humana, sou um bicho enjaulado, fedendo a suor, mijo, imunda, à beira da loucura,só quero sobreviver ou ter uma morte rápida.
Mas sei que é pedir muito.
Como policial cada minuto neste cativeiro significa o esforço dos companheiros que já devem ter cercado o morro e tomado cada viela.
Os traficantes estão desesperados porque o movimento está parado, a polícia está cercando outros morros, prejudicando as bocas que não podem vender as drogas. Eles não vão agüentar muito tempo a pressão.
Tenho 22 anos, passei no último concurso para a Polícia Civil, ainda estou novinha na função. Estava fazendo um reconhecimento de área em uma favela no Rio de Janeiro quando pegaram meu parceiro. Tentei revidar, mas uma pancada muito forte na cabeça fez com que perdesse os sentidos.
Acordei assim. Preferia estar morta. Ouvi quando meu parceiro foi executado. Eles deram muitos tiros, mas não o mataram logo; ele sofreu muito nas mãos daqueles bandidos covardes. O barraco onde estou fica no alto do morro, ouço os helicópteros sobrevoando a área e os bandidos estão monitorando cada passo da polícia pelo rádio. Estou nas mãos deles há seis horas, são muitas vozes discutindo o que fazer. Matar, queimar, fuder, estou perdida, se pudesse me
matava agora. A polícia está apertando o cerco e eles estão cada vez mais agitados.
Eles entram e me colocam em pé, são oito bandidinhos de merda, alguns ainda adolescentes. Tento falar mas levo um, dois, perdi a conta dos socos. Minha boca sangra, alguns dentes caem e eles não param de bater. Um deles parece o líder, é mais velho, atarracado,olhos injetados, muito doidão. Ele arranca minhas roupas e expõe meu corpo magro, xinga, grita que sou uma puta, polícia de merda, me arrasta pelos cabelos, fura os meus seios com um facão, morde meus mamilos, suplico, imploro e eles riem. Sou uma aberração que urra numa poça de sangue: — Me mata, me mata por favor, me mata.
Imploro. Eles não ouvem, estão fumando e cheirando sem parar, cada vez mais loucos e violentos. Não sei quantas vezes fui penetrada, por quantos, não sei como suportei tanta dor. Fui tragada pela escuridão e lá busquei conforto. Nada mais importa agora. Penso nos meus pais, chamo o nome da minha mãe várias vezes, esperando, apenas, o final da dor.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Agonia
por Giselle Sato
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