Inclusão e Exclusão
Nas relações humanas, sempre há uma dinâmica de inclusão e exclusão.
O grupo dominante, pela própria natureza restritiva do poder, costuma excluir ou ignorar tudo aquilo que não pertença a seu projeto, ou que esteja contra seus princípios.
Em regimes autoritários, esta exclusão é muito evidente, sob forma de perseguição, censura, exílio. Qualquer um que se interponha no caminho dos dirigentes é afastado e ostracizado.
As razões disto são muito simples de se compreender: o diferente, o dissidente é perigoso, pois apresenta alternativas, às vezes, muito melhores do que o estabelecido. Por isto, é necessário suprirmir, esconder, banir.
A União Soviética não foi muito diferente de demais regimes autocráticos. Origina-se como uma forma de governo humanitária, igualitária, mas logo se converte em uma ditadura como qualquer outra. É a microfísica do poder.
Em reação, aqueles que se acreditavam como livres-pensadores, que não queriam, ou não conseguiram, fazer parte da máquina administrativa - que estipulava como deveria ser a cultura, a informação, a voz do povo -, encontraram na autopublicação clandestina um meio de expressão.
Datilografando, mimeografando, ou simplesmente manuscrevendo, tais autores russos disseminavam suas idéias. E ao leitor era incumbida a tarefa de continuar esta cadeia, reproduzindo tais obras e também as passando adiante. Este processo foi designado "samizdat", que nada mais significa do que "autopublicado", em oposição às publicações oficiais do regime soviético.
E por que Samizdat?
A indústria cultural - e o mercado literário faz parte dela - também realiza um processo de exclusão, baseado no que se julga não ter valor mercadológico. Inexplicavelmente, estabeleceu-se que contos, poemas, autores desconhecidos não podem ser comercializados, que não vale a pena investir neles, pois os gastos seriam maiores do que o lucro.
A indústria deseja o produto pronto e com consumidores. Não basta qualidade, não basta competência; se houver quem compre, mesmo o lixo possui prioridades na hora de ser absorvido pelo mercado.
E a autopublicação, como em qualquer regime excludente, torna-se a via para produtores culturais atingirem o público.
Este é um processo solitário e gradativo. O autor precisa conquistar leitor a leitor. Não há grandes aparatos midiáticos - como TV, revistas, jornais - onde ele possa divulgar seu trabalho. O único aspecto que conta é o prazer que a obra causa no leitor.
Enquanto que este é um trabalho difícil, por outro lado, concede ao criador uma liberdade e uma autonomia total: ele é dono de sua palavra, é o responsável pelo que diz, o culpado por seus erros, é quem recebe os louros por seus acertos.
E, com a internet, os autores possuem acesso direto e imediato a seus leitores. A repercussão do que escreve (quando há) surge em questão de minutos.
Ao serem obrigados a burlarem a indústria cultural, os autores conquistaram algo que jamais conseguiriam de outro modo, o contato quase pessoal com os leitores, o diálogo capaz de tornar a obra melhor, a rede de contatos que, se não é tão influente quanto a da grande mídia, faz do leitor um colaborador, um co-autor da obra que lê. Não há sucesso, não há grandes tiragens que substitua o prazer de ouvir o respaldo de leitores sinceros, que não estão atrás de grandes autores populares, que não perseguem ansiosos os 10 mais vendidos.
Os autores que compõem este projeto não fazem parte de nenhum movimento literário organizado, não são modernistas, pós-modernistas, vanguardistas ou qualquer outra definição que vise rotular e definir a orientação dum grupo. São apenas escritores interessados em trocar experiências e sofisticarem suas escritas. A qualidade deles não é uma orientação de estilo, mas sim a heterogeneidade.
Enfim, "Samizdat" porque a internet é um meio de autopublicação, mas "Samizdat" porque também é um modo de contornar um processo de exclusão e de atingir o objetivo fundamental da escrita: ser lido por alguém.
Nas relações humanas, sempre há uma dinâmica de inclusão e exclusão.
O grupo dominante, pela própria natureza restritiva do poder, costuma excluir ou ignorar tudo aquilo que não pertença a seu projeto, ou que esteja contra seus princípios.
Em regimes autoritários, esta exclusão é muito evidente, sob forma de perseguição, censura, exílio. Qualquer um que se interponha no caminho dos dirigentes é afastado e ostracizado.
As razões disto são muito simples de se compreender: o diferente, o dissidente é perigoso, pois apresenta alternativas, às vezes, muito melhores do que o estabelecido. Por isto, é necessário suprirmir, esconder, banir.
A União Soviética não foi muito diferente de demais regimes autocráticos. Origina-se como uma forma de governo humanitária, igualitária, mas logo se converte em uma ditadura como qualquer outra. É a microfísica do poder.
Em reação, aqueles que se acreditavam como livres-pensadores, que não queriam, ou não conseguiram, fazer parte da máquina administrativa - que estipulava como deveria ser a cultura, a informação, a voz do povo -, encontraram na autopublicação clandestina um meio de expressão.
Datilografando, mimeografando, ou simplesmente manuscrevendo, tais autores russos disseminavam suas idéias. E ao leitor era incumbida a tarefa de continuar esta cadeia, reproduzindo tais obras e também as passando adiante. Este processo foi designado "samizdat", que nada mais significa do que "autopublicado", em oposição às publicações oficiais do regime soviético.
E por que Samizdat?
A indústria cultural - e o mercado literário faz parte dela - também realiza um processo de exclusão, baseado no que se julga não ter valor mercadológico. Inexplicavelmente, estabeleceu-se que contos, poemas, autores desconhecidos não podem ser comercializados, que não vale a pena investir neles, pois os gastos seriam maiores do que o lucro.
A indústria deseja o produto pronto e com consumidores. Não basta qualidade, não basta competência; se houver quem compre, mesmo o lixo possui prioridades na hora de ser absorvido pelo mercado.
E a autopublicação, como em qualquer regime excludente, torna-se a via para produtores culturais atingirem o público.
Este é um processo solitário e gradativo. O autor precisa conquistar leitor a leitor. Não há grandes aparatos midiáticos - como TV, revistas, jornais - onde ele possa divulgar seu trabalho. O único aspecto que conta é o prazer que a obra causa no leitor.
Enquanto que este é um trabalho difícil, por outro lado, concede ao criador uma liberdade e uma autonomia total: ele é dono de sua palavra, é o responsável pelo que diz, o culpado por seus erros, é quem recebe os louros por seus acertos.
E, com a internet, os autores possuem acesso direto e imediato a seus leitores. A repercussão do que escreve (quando há) surge em questão de minutos.
Ao serem obrigados a burlarem a indústria cultural, os autores conquistaram algo que jamais conseguiriam de outro modo, o contato quase pessoal com os leitores, o diálogo capaz de tornar a obra melhor, a rede de contatos que, se não é tão influente quanto a da grande mídia, faz do leitor um colaborador, um co-autor da obra que lê. Não há sucesso, não há grandes tiragens que substitua o prazer de ouvir o respaldo de leitores sinceros, que não estão atrás de grandes autores populares, que não perseguem ansiosos os 10 mais vendidos.
Os autores que compõem este projeto não fazem parte de nenhum movimento literário organizado, não são modernistas, pós-modernistas, vanguardistas ou qualquer outra definição que vise rotular e definir a orientação dum grupo. São apenas escritores interessados em trocar experiências e sofisticarem suas escritas. A qualidade deles não é uma orientação de estilo, mas sim a heterogeneidade.
Enfim, "Samizdat" porque a internet é um meio de autopublicação, mas "Samizdat" porque também é um modo de contornar um processo de exclusão e de atingir o objetivo fundamental da escrita: ser lido por alguém.
22 comentários:
Boa, Henry, você definiu perfeitamente o intuito do blog. Parabéns pelo texto.
Abração
A coisa tá tomando forma
Vamos cruzar os dedos e fazer propaganda, quem sabe um dia a gente aparece no programa do Jô (ou não...)!
Pois assim é o processo de exclusão.
A idéia é realisticamente real. O protesto um dia se torna vencedor.
bem bacana o blog. parece com o bar do escritor em www.bardoescritor.net na parte do blog.
bem que podíamos linkar um ao outro.
[]s
Acho que a semelhança não é mera coincidência. Lembro-se de ter acessado o "bar..." antes da criação da SAMIZDAT e a ideia me pareceu bastante interessante.
Além disto, acho que alguns autores da SAMIZDAT também participam do bar (ou do pornobar, não sei se são projetos diferentes), ou seja, nestes nossos tempos, está tudo conectado.
Os links atuais são apenas de blogs ou sites dos autores, mas podemos pensar em criar uma nova seção para blogs relacionados. Eu o aviso quando isto for feito.
Abraços e sucesso.
O texto ficou excelente, definiu a intenção com clareza. Parabéns!
espero contribuir, não só com meus textos mas também com meu ânimo e minhas ideias, com o projeto samizdat.
Concordo inteiramente com o texto!! O prazer de ser lido por um leitor virtual e muito grande. Principalmente quando você sabe e tem certeza de que quem está lendo é porque gosta da sua maneira de escrever, e vou mais além foi um leitor conquistado a duras penas na da luta do corpo a corpo com ele e como um escritor independente atravez das penas da internet a nossa moderna caneta virtual. Estive por aqui me informando nos seus escritos!! Abraços Ademar!
Conheci o Samizdat agora, por acaso...
E fiquei maravilhada com o projeto.
Parabéns a todos...
Gostei do blogue. Tem nome interessantíssimo e muitos bons textos. Ainda encontrei meu amigo Dênis Moura por aí. alô, Dênis. Esperamos seu livro.
Abraço.
Carlos Vazconcelos
Autor de Mundo dos Vivos (contos)
Adorei!
Achei legal também a data do post.
Achei o blog pesquisando algum dos anos bissextos, fui atendida, e ainda achei textos bons..(na verdade, só li esse, mas sei que o plural vai condizer).
Como posso participar do prjeto.Sou poeta - www.poesiemfoco.blogspot.com
um abraço! amei o projeto.
léo vincey
Muito legal o projeto de vocês. Força.
Salve, escritor!
Primeiramente gostaria de parabenizar pela iniciativa.
Venho acompanhando silenciosamente o blog há algum tempo e regozijo-me sempre com a qualidade dos textos publicados.
Considero-me um pseudoautor (pelo menos uma coisa boa a reforma ortográfica trouxe : uma boa desculpa para não saber usar o hífen), publicando sempre que possível no http://arroubosliterarios.blogspot.com e gostaria de estender meu convite a todos os leitores e colaboradores do SAMIZDAT para uma visita,críticas, sugestões e o que mais der na telha.
PAZ a todos!!!
Henrry parabéns pela iniciativa! Gostei bastante da filosofia do blog, é minha primeira visita por aqui, mas agora já aprendi o caminho... Eu também tenho um blog onde escrevo,e gostaria que soubesse que o teor que encontrei aqui é realmente inspirador.
Está convidado a uma visita!
Abraço.
Como faço para mandar textos para serem publicados na sua revista?
Sempre é bom saber que tem mais gente que não afina com a situação estabelecida, independente do setor.
Acabo de ler o artigo.
É estimulante.
A internet que é explorada pelos poderosos,como sempre acontece, talvez seja uma daquelas circunstâncias em que a criatura se vira contra o criador, em muitos aspectos.
Saúde e felicidade.
João Pedro Metz
Olá, estou chegando agora no blog e gostaria de saber como enviar contos para sua apreciação. Obrigada!SHa
Henry,
Sucesso em seu projeto. Ele propõe um caminho de inclusão que carecemos há muito. Conte comigo na divulgação dos seus belos feitos. Fico a disposição para participar de algum certame que proponha também.
Abraços
OBS.: Se me permitir citar sua proposição em meu blog, atribuindo os devidos créditos, agradeceria.
Sem mais,
Bruno Resende Ramos
O seu texto expressou bem o sentimento de exclusão e às vezes até de angústias que perpassam o escritor solitário e não reconhecido, sem chances em qualquer mescado editorial, mas lido por alguns. Torno-me seguidora! :)
Um abraço, Hosamis.
Jamais pensei encontrar tantos afins! Iniciativa perfeita!
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