Quando
cheguei ao meu novo trabalho, fui muito bem recebido. Os colegas me deram
espaço para as perguntas mais triviais. Logicamente, precisava de bastante
ajuda, já que vinha de uma área totalmente diferente. Cleiton, o generoso, me
ensinou nos mínimos detalhes. Vi que queria me amparar. Como, por coincidência
da vida, havia trabalhado com a sua esposa, ele já me conhecia e queria decerto
se tornar um amigo, como de fato foi se confirmando no decorrer dos meses. A
grande surpresa foi Fátima. Que decepção! Não esperava passar por essa nessa
altura da vida. Mas vamos lá… Na minha frente, se mostrava receptiva, cordial.
Só que, num grupo de WhatsApp escondido, com ex-funcionários, fiquei sabendo
que ela reclamara da minha falta de aptidão para o trabalho. Aquilo me
desmontou, de início; fraquejei. Enxuguei as lágrimas, como se diz, e tentei
dar o meu melhor. Segui atento e diligente. Cleiton, que me contou o caso,
disse para eu não me abalar, que “não me largaria atrás”. Parei de fazer
perguntas para a Fátima, de forma abrupta; ela pode ter percebido a merda que
fez. No seu pedestal, se mostrava muito dona de si, mas de vez em quando vinha
tirar dúvida com o mais antigo, o Cleiton. E eu, aí, tinha vontade de dizer que
todos éramos falíveis, meros seres humanos. Até que um dia o meu chefe, que não
tem papas na língua, soltou que eu havia “dado muito trabalho à Fátima”. Educadamente,
rebati-o, dizendo que pouco ou nada havia precisado dela, só no começo. Como
podia, uma pessoa aparentemente tão afável, ser, por detrás, uma traíra? Eu
estava complicando o seu posto? Havia o perigo de eu lhe prejudicar? Nunca! Só
queria o meu lugar. Até que, dias depois, ela comentou que iria comprar um
carro – deixaria de andar de moto – e precisava de uma vaga de garagem. No ato,
sem pensar, ofereci a vaga que possuía e que deixaria de ter, porque havia
alugado outra no prédio em que trabalhava. Se não fosse assim, ela teria de
esperar numa fila para, enfim, garantir uma vaga. Fiz isso porque o faria para qualquer
pessoa que precisasse. Não me lembrei que ela teria sido ruim comigo. Pelo que
tudo indica, ela deixou de falar mal de mim; os meses e as minhas intenções
aplacaram a sua sanha, tenho para mim. Mas, ainda assim, não lhe dou muito
liberdade: sobrou uma mágoa, leve, mas sobrou. Com o tempo sara. Sarará. Eu já
fui muito cobrado, ameaçado e maltratado, mas, quando se é maduro, tem-se a
impressão de que, com o tempo, aprende-se a relevar tudo. No entanto, o corpo
padece do que machuca o coração. Sentir-se enganado é a pior sensação. Ainda
luto para manter o meu posto, sem pisar em ninguém. E Fátima, por incrível que
pareça, é só uma nuvem densa que passou.
Comentários
Postar um comentário