Sentado num dos bancos da estação, Pedro
observa, distraído, a chegada de um comboio vazio, remoendo pela milésima vez o
seu dilema: ficar ou partir?
Fora sempre o tipo de pessoa de se deixar
“ir na maré”, mas desta vez não via outra solução, tinha mesmo de tomar uma
decisão. Só que ao fim das duas semanas que lhe tinham concedido, muito a
custo, estava ainda mais confuso do que quando começara.
Fizera tudo de que se lembrara para o
ajudar a avaliar a situação, mas o prazo estava o fim, tinha de dar uma
resposta final daqui a menos de uma hora e não fazia a mais pálida ideia de
qual seria.
Amigos e conhecidos não tinham sido de
grande ajuda. Contactara todos de que se lembrara, alguns, até, que não
contactava há anos, mas, infelizmente, ao contabilizar as poucas opiniões
recebidas, havia tantas a favor da partida como contra.
A família, bom, essa estava farta das suas
indecisões, do seu eterno saltitar entre opções ao sabor do último a falar,
muito francamente a opinião geral era de que era mais do que altura de ser ele
o responsável por decidir a sua vida. Tinham-se, pura e simplesmente, recusado
a opinar, particularmente a mulher. Mas esta tinha boas razões para isso,
ajudara-o em várias ocasiões similares no passado e depois vira-se a ser o alvo
do seu descontentamento quando as coisas não tinham corrido como imaginara. E
nunca corriam, inevitavelmente, porque ele nunca tinha uma visão clara do que poderia
acontecer.
Como agora. Esta oferta de emprego era
muitíssimo tentadora, bom salário, despesas de estadia pagas, um país que
sempre quisera conhecer e, como bónus, um certo ar de aventura com que sonhava
vagamente desde miúdo. Mas havia a distância, a separação da família, a falta
de comunicações regulares, os maus cuidados médicos, ou antes, a ausência deles,
e, acima de tudo, o possível perigo de se vir a tornar um alvo por ser
estrangeiro.
Por outro lado, ficar significava manter o
seu ambiente familiar e o conforto da rotina, isso se nada acontecesse à
empresa que, bem o sabia, passava atualmente por um mau momento. Mas podia ser
que as coisas se endireitassem, o mesmo acontecera dois anos antes sem
consequências de maior, podia ser, até, que lhe oferecessem finalmente um vínculo
permanente.
Rotina? Ou salto no escuro? Que decidir?
Ouviu então o comboio que vira chegar
vazio, agora quase cheio, dar o sinal da partida. E foi quando se decidiu, usá-lo-ia
como símbolo da sua partida iminente. Não seria, certamente, um critério pior
dos que adotara no passado e podia muito bem ser que o resultado fosse bem
melhor.
Luísa Lopes
Imagem feita com QuickWrite
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