Cedo, acordei meu pai. Era o
dia combinado para a montagem da Árvore de Natal. Sentei-me ao lado dele na
mesa do café da manhã para garantir que começássemos logo. Finalmente chegou a
nossa vez de montar a árvore, escolher os enfeites, as cores. Minha mãe também
enfeitava a árvore, porém temos o gosto um pouco diferente uma da outra. Pelo meu
tamanho, não consigo fazer tudo sozinha e meu pai aceita mais as minhas ideias
para a decoração.
Subimos ao sótão e descemos o material. Peguei várias caixas de papelão com as
bolas e enfeites de Natal. Minha árvore seria colorida. Também teria muitas luzes
de tom azul.
Meu pai armou a árvore com a maior paciência e arrumou cada um dos galhos com
muito cuidado. É inacreditável como algo daquele tamanho cabia numa caixa tão
pequena. À medida que a árvore crescia, ele explicava que cada um dos enfeites
tinha uma simbologia, um número certo de bolas, de sinos, de anjos e até me
disse o que representavam as bengalas.
– Não são doces, papai?
– As bengalas representam os cajados dos pastores e do Pastor maior, Jesus
Cristo, que conduz o seu rebanho rumo à salvação – disse papai.
– Muito legal tudo isso pai, mas eu quero muito mais na minha árvore, preciso enchê-la
de enfeites. Colocamos as doze bolas e os três sinos na parte da frente, mas
quero colocar muito mais nas outras partes dela.
– Claro querida, ela é sua!
Depois de tudo montado, restou colocar a Estrela-Guia no topo da árvore. Meu
pai segurou bem firme a escada e eu, esticando o braço o máximo que pude,
coloquei-a. Foi como se eu exibisse o meu troféu.
Olhei com atenção para o pinheirinho e achei que estava faltando alguma coisa.
– Pai, onde está o Presépio? – perguntei.
Para minha surpresa ele apanhou uma caixa nova, abriu com todo cuidado e
começou a desenrolar cada uma das personagens que representavam a Natividade.
Era um Presépio bem maior que o que tínhamos.
Me detive aos Três Reis Magos, questionei:
– Por que eles entregam presentes ao Menino Jesus?
– Era costume, quando se visitava um rei, presenteá-lo. Eles haviam seguido a
Estrela que, segundo as profecias, os levaria ao Rei dos Judeus. Nem imaginavam
que encontrariam um Menino humilde, um Pai dedicado e uma Jovem Mãe que adorava
o filho. Mas reconheceram sua realeza, reafirmada pelos anjos que os
orientaram.
– É por isso que ganhamos presentes no Natal?
– Alguns dizem que sim e que mais tarde o Papai Noel assumiu o papel de
distribuir presentes para as crianças, como uma forma de se lembrar do Espírito
do Natal.
– Como na história do Nicolau, naquele filme que assistimos?
– Sim, querida.
Chegou a hora certa. Eu faria a pergunta que não saia da minha cabeça desde o
começo do ano, mais precisamente desde o início das aulas, quando eu entrei no
sexto ano. Eu perguntei para minhas amigas o que elas haviam ganhado do Papai
Noel e elas riram de mim, me chamaram de criancinha ingênua e me disseram que o
Papai Noel não existe, que são nossos pais que compram os presentes e os
colocam debaixo da árvore no dia de Natal.
– Pai, Papai Noel existe mesmo?
– O que você acha? – respondeu-me ele com uma pergunta.
– Eu sempre acreditei na existência dele, mas estou com dúvidas. Na escola eu
sou a única que acredita. Acredito porque você sempre me contou histórias dele
e garantiu que ele existe.
– É bom ou não que ele exista?
– Pai, não fuja da minha pergunta. Por favor, ele existe ou não existe?
– Para mim, sempre existiu. – Afirmou papai.
– Então me diz uma coisa. Por que no Natal do Ano passado você me fez aquela
pergunta quando estávamos no shopping?
– Que pergunta?
– Você queria saber o que eu havia pedido ao Papai Noel em minha cartinha.
Insistiu para que eu dissesse, melhor, insistiu que eu mostrasse na loja de
brinquedos o que era. Depois você saiu, enquanto eu e a mamãe fomos até uma
outra loja e, depois, encontramos o senhor voltando do estacionamento.
– Só fui levar algumas das sacolas e pegar o cartão do estacionamento que eu
havia esquecido dentro do carro.
– É! Coincidentemente, o presente veio embrulhado com o papel da loja onde eu
lhe mostrei o brinquedo!
– Entenda, o Papai Noel fez de tudo para lhe agradar, por ser uma menina boa.
Até o papel da loja ele foi buscar!
O olho direito do meu pai começou a tremer e ele não consegui olhar diretamente
nos meus olhos. Será que poderei continuar confiando nele? Se o Papai Noel não
existe, será que meus pais contam outras mentiras para mim? – Fiquei pensando.
O Menino Jesus já estava na manjedoura. Pronto! A árvore estava concluída. Eu
saía para dar a notícia para a minha mãe quando meu pai me chamou:
– Filha, ainda não arrumamos a lareira. Precisamos pendurar as botas!
– Acho que não será preciso.
– Não quer nada neste Natal?
– Querer, eu quero.
– Então, se não pendurar as botas, onde colocará a cartinha para o Papai Noel?
– Papai Noel existe?
– Para mim, sempre existiu. – Reafirmou meu pai.
– Pai, não sei se acredito em você.
Senti a tristeza no olhar de meu pai e vi uma pequena lágrima escorrendo em sua
face.
– Filha, algumas coisas em nossa vida são mágicas e precisam de fé. Fé é
acreditar em algo que não se viu, que não se sentiu no momento em que
aconteceu, mas que existem sinais e testemunhos de que são reais. Temos elas
como verdade e que nos faz bem acreditar.
– Assim como o nascimento do Menino Jesus?
– Sim, como o nascimento Dele ou como nos ensinamentos Dele.
– Mas com o Papai Noel é diferente. Eu estou vivendo isso, sentindo isso, não é
preciso que alguém me conte sobre isso, pai.
– É, você já está mocinha, pode fazer as suas escolhas. Sempre pôde escolher no
que acreditar. O que eu posso ainda lhe dizer é que eu continuo acreditando na
magia do Natal, na vinda do Salvador e isto me faz bem.
– Pai, vou continuar acreditando em você. Vou fazer a cartinha.
– Que bom!
Ele me deu um abraço bem forte.
– Pronto, as botas já estão penduradas. Quando quiserem, você e seus irmãos já
podem colocar as cartinhas.
– Certo, a minha carta vou lacrar e a minha bota fechar com cola quente.
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