Fui
ao centro da cidade para comprar uma roupa nova. Tinha acabado de receber o meu
salário, no dia anterior, na sexta. Claro, só lá encontraria o melhor preço.
Estava disposta a pagar, no máximo, cem reais, porque o restante seria
empregado no curso de informática do Juninho, meu filho; fora as despesas
normais de casa, que são muitas para uma mãe solteira. Saí mais cedo que o
normal, às sete, para, justamente, não ter de levar o pequeno. Seria um inferno;
ele ficaria chorando e aperreando para comprar brinquedos. Peguei o Circular II
e desci mesmo em cima do Banco do Brasil, na Avenida Duque de Caxias. Durante o
trajeto, pensei como seria bom se todo mês pudesse me fazer um agrado, como
hoje; passear e comprar uma besteirinha aqui e acolá. Isso acontece, quando
muito, no final do ano. Dessa vez, por verdadeira extravagância, comprava em
março. A intenção e o objetivo eram o importantíssimo casamento da Lucinha,
minha melhor amiga. Ah, como a mulher sofreu nas mãos de uns e de outros
vagabundos. O penúltimo, antes do Ulisses, batia e cuspia em sua cara,
literalmente. Depois de anos – três, acho –, Lucinha se convenceu de que não
dava mais. Mas não tinha jeito; o bandido foi preso por algazarra e desordem;
tentou matar um dono de bar, no interior, e levou uma sola, que não sabe nem a
placa do caminhão que passou por cima dele. Irreconhecível e preso, graças a
Deus. O Ulisses, não, é outra história; um homem decente, de princípios, da
igreja; e o melhor, amigo do Raul, irmão da Lucinha. Só penso no dia em que
Ulisses vai dar os toques para o Raul que eu sou a fim dele – tomara que seja
no bendito casório. Lucinha não sabe fazer as coisas; estragou três
oportunidades. Na primeira, deixou que eu ficasse sozinha em sua casa com o
Raul; ele achou estranho e disse que tinha de sair. Na segunda, Raul percebeu a
tramoia, porque Lucinha não dissimulou nada; chamou-o para, só nós três, irmos
ao Cachorrão da esquina. Na última, ela se queimou, deu um presente dizendo que
era meu e, quando cheguei lá, por acaso, Raul veio me agradecer e foi aí que
soube da tal jogada; ele notou o meu desconcerto e ficou abusado de mim. Faria
de tudo para conquistar o meu amorzinho, enquanto ainda dá tempo – vai que,
numa dessas, ele arruma umazinha aí e eu me lasco; nem mel nem cabaça. É hora
da virada. Será no casamento, sim – por Deus, não aguento mais de desejo
reprimido. Vou pegar ele de cumforça, com carinho, e não vai ter
escapatória. Ulisses prometeu me ajudar – com cuidado, muito cuidado, para não
assustar a fera. Serei a mais bela entre as belas do recinto. Ele não perde por
esperar.
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