Entre
mãe e filha
surgem
silêncios
intransponíveis
dores
que a palavra
inalcança
ranços
impenetráveis
trançados
de fel e espinho
abismos
cercados de neve
Do
amor incondicional
provêm
pactos do imaculável
omissões
toscas e rudes
simulacros
ilicitudes
vermes
que não morrem
medos
que
nem
uma nem outra
tocam
ilhas
de fogo
que
não penetram
lacunas
que
não preenchem
Espera-se
de mãe e filha
esforço
de tanto altruísmo
afeto
tão reto e sem culpa
que
a farsa
não raro
se impõe
por
mero casuísmo
Deviam
ousar
a verdade
arrombar ruídos,
traumas,
heranças
confessar
cada desvio
domar
desgostos
infringir
o sangue
qualquer paradigma
simplificar-se
Mãe
e filha
cada uma
vez
ou outra
bem que podia
rasgar
o véu
do
afeto perfeito
largar a vergonha
perder as estribeiras
Devia
assentir
a sentença
soberana
de que tudo é obra
dá muito trabalho
manter esse elo
Rebentar como que
de novo
enquanto mãe
enquanto filha
escalando o poço profundo
de cada dia
Aprender assim
pouco a pouco
materno-filialmente
a lançar-se
de mãos dadas
heroicas
peitando a pirambeira
(Maria Amélia Elói)
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