“A gente morre um pouco em cada poço”.
(Caio Fernando Abreu)
A gente morre um pouco em cada poço,
E cá estou, recluso em meu castelo.
Ergui meus muros, cavei meu próprio fosso,
Com minhas dores, cortantes qual cutelo.
Se hoje em dia não temo nem a morte,
Se minha busca resume-se à estrada,
Direis, talvez, que sou homem de sorte,
Mas só eu sei o preço da jornada.
Se com a vida travei longo duelo,
E mergulhei no abismo até o osso,
Fui qual Narciso, julgando-me tão belo,
Ignorando que o lago era um poço.
Hoje me vejo tão vil e sem remorsos,
Nessa infâmia que mais e mais se agrava.
E quanto mais tento livrar-me desses poços,
Mais eu percebo ser aquele que os cava.
quarta-feira, 2 de agosto de 2017
O POÇO E O CAVADOR
por Tatiana
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