As
palavras insistem em sair, mas há tempos não viram dinheiro.
Viraram,
algum dia?
Elas
pedem continuam pedindo vazão e eu me atrapalho porque não tenho nem como
dar-lhes o que solicitam.
Tenho
que continuar tenho que continuar tenho que lutar e prosseguir só não sei com o
quê.
Não
sei mas ainda assim tenho que continuar com seja lá o que for que possa me
manter viva e de pé enquanto as águas vão subindo e a inundação já passou do
meio das costas.
Eu
que gosto tanto das águas agora queria a terra e não o ar. A terra e seu cheiro
a terra e sua cor avermelhada a terra e sua dureza sua sabedoria sua firmeza
seu carinho.
A
água só está me levando para mais fundo e não sei mais se consigo emergir ou se
ficarei para sempre em seus territórios e um dia serei resgatada os olhos
arregalados os cabelos arrepiados brancos perdido o sentido de tudo o mundo
desgastado e distante.
Talvez
seja isso se a terra não vier me buscar antes. Mas não para me levar embora. Tento me aproximar dela abaixar-me e tocá-la mas ela
refuga. Ainda. Terei
que conseguir subjugá-la para que ela possa então agir e me fazer terra elemento levantar e
olhar para o ar de frente sem o queixo caído sem as lágrimas coladas à pele sem
o desespero que já nem mais cala fundo. Ele transborda.
O
chão não está aqui. Ou está mas apenas provisoriamente debaixo da cama que
assenta meu corpo de bruços enquanto escrevo sob o sol. Mas não sei por mais quanto
tempo. O próximo mês. Terei como arcar?
O
DIU está fora do lugar, é preciso arrumá-lo. Muitas coisas estão fora do lugar,
é preciso arrumá-las. Tenho forças, ainda? Estamos todos aqui presos numa coisa
que fazemos e não serve mais. O que nos restará? Será que um dia
servirei para fazer sorvetes que aplaquem o calor?
O pouco sempre me foi suficiente e achei que o importante era isso. O pouco. Fazer o que se quer o que se sabe o que se gosta de fazer. Nunca achei que esse pouco fosse minguar até sumir na insuficiência.
Posso, sem armas,
revoltar-me? Tenho forças para isso? Tenho tempo, ou
preciso correr para tentar ganhar o troco para
continuar respirando o ar que ainda resta e tentar conseguir o ar de amanhã?
O
gato quer brincar, é preciso distraí-lo. A criança quer saber da Via Láctea e
da vida que um dia parece ter havido em Marte. Podemos, sem foguetes, nos
tornar marcianos?
Os quarenta chegam logo nem posso mais dizer que se avizinham senão que correm a cavalo. E eu, conseguirei me segurar em pé?
Para
onde nossa incapacidade nos deixará fugir?
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