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terça-feira, 20 de setembro de 2016

A filha do pai

Ademilton Caldeira era fascinado pela sua filha única: Jade, 17 anos.
Viúvo precoce, jamais ousou admitir outro amor. Criou a menina sozinho,
dentro de redoma de princesa, imune a príncipes a quem temia serem todos sapos.
Jade foi educada no colégio mais cuidadoso da cidade, de excelência em
ensinamentos, esmero na vigilância, rigidez na disciplina e rigores nas boas maneiras.

Mas no baile da formatura no clube campestre, Caldeira perdeu Jade de vista na multidão
de moços e moçoilas que se embalava ao som de uma orquestra de metais, bem ao estilo
Glenn Miller. Cismou que a filha havia escapulido com alguém pelos jardins escuros
da madrugada. Entrou em pânico.

- Cadê Jade? Cadê minha filha?

Caldeira gritava para dentro enquanto se imiscuía pelos arbustos com isqueiro na mão.
Não descobriu o menor vestígio e voltou em desespero para o baile no salão.
Não encontrou sua menina, mas uma Jade irreconhecível, rosto colado com um rapaz
e olhos cerrados de encantamento e excitação romântica.
Caldeira tremeu. Ardências subiram-lhe aos colarinhos, o coração
fora alfinetado, a sudorese brotou. Mas depois de alguns respiros profundos, a razão
e a sensatez vieram a prevalecer. Preferiu admitir o rapaz bem apessoado e distinto,
sentou-se a uma mesa próxima e conformou-se em vigiar a alegria da filha.

O gentil pé de valsa e cavalheiro de fim de festa, de nome Aldo,  devolveu Jade aos braços do pai,
espargindo elogios e respeito por tão encantadora companhia. Despediram-se como
manda o figurino, embora entre o casal piscassem faíscas secretas de um amor que nascia.

Tempos depois, o namoro foi esquentando.  Aldo, Jade e Caldeira viviam a
harmonia de uma bonita família que estava por se desdobrar. Não demorou muito,
Aldo fez o que Caldeira mais temia: pediu Jade respeitosamente em casamento,
num jantar comum de um dia de semana.

- Você é um rapaz que me parece sério, Aldo.
- Pode ter certeza que por Jade tenho as melhores intenções, Sr. Caldeira.

Caldeira pediu a Jade que se retirasse da sala.

- Muito bem, meu rapaz. Estamos para uma prosa a sós. 
De futuro sogro para futuro genro.

Aldo arregalou os olhos. Caldeira pôs-se de joelhos aos pés de Aldo.

- Por favor, Sr. Caldeira. Não carecem súplicas de juízo. 
Serei o marido leal honrado que sua filha faz por merecer.

Caldeira emudecido agarrou as canelas de Aldo, que paralisou. Subiu as mãos pela calça
bem cortada do rapaz, abriu sua braguilha, encontrando algo de acuado,
tão perplexo quanto o dono. Ainda paralisado, Aldo sentiu a boca e a língua
de Caldeira sugarem sôfregas uma suculência crescente, bem dotada,
incontrolavelmente pulsante. As mãos do quase sogro apertaram as coxas
e glúteos do quase genro, como uma criança que não larga um presente. Nem um
pirulito.

Queria Ademilton Caldeira conhecer e sentir nas entranhas o que a filha
haveria de provar com tanto gosto. Como se fosse ela mesma.


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José Guilherme Vereza
Carioca, botafoguense, pai de 4 filhos. Redator, publicitário, professor, roteirista, escritor, diretor de criação. Mais de mil comercias para TV e cinema. Uma peça de teatro: “Uma carta de adeus”. Um conto premiado: “Relações Postais”. Um livro publicado “30 segundos – Contos Expressos”. Mais de 3 anos na Samizdat. Sempre à espreita da vida, consigo modesta e pretensiosamente transformar em ficção tudo que vejo. Ou acho que vejo. Ou que gostaria de ver. Ou que imagino que vejo. Ou que nem vejo. Passou pelos meus radares, conto, distorço, maldigo, faço e aconteço. Palavras são para isso. Para se fingir viver de tudo e de verdade.
todo dia 20


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